O Brasil que corre na veia d'O Corpo

Grupo mineiro faz temporada carioca no Teatro Multiplan

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

'Parabelo', coreografia autoral do Grupo Corpo que remete ao universo glauberiano está em cartaz no Rio

No ser humano o corpo, também chamado sôma (do grego transliterado sôma), é considerado como o organismo material, abstraído de suas funções psíquicas (donde provém o conceito de somatização de algumas doenças). Mas há corpos que vão além, com a linguagem dos movimentos, expressões, são capazes de criar nos outros verdadeiros estados de afeto. Assim, o faz o grupo O Corpo, mineiros de Belo Horizonte, praticamente há 50 anos - o grupo existe desde 1975.

A cabeça é de Paulo Pederneiras, diretor-geral e criador; o corpo é de Rodrigo Pederneiras (inicialmente bailarino e depois coreógrafo) e os membros são José Luiz (abandonou a medicina para virar fotógrafo), Pedro tornou-se diretor técnico, e as irmãs Míriam e Marisa foram dançarinas. Mas o conjunto de cabeça, corpo e membros também tem todos os órgãos, veias, músculos e sangue compartilhados nas dezenas de bailarinos que passaram pelo grupo.

A experiência de encontro da plateia com o grupo é sempre grandiosa. Seus espetáculos firmam a cultura brasileira, música, concepção ao mesmo tempo que a contemporaneidade nas historias contadas pelo encontro dos movimentos, dos figurinos lindos, originais, diferenciados, com arranjos musicais inesperados, uma luz surpreendentes. Nada é pouco em O Corpo. Tudo abunda, o talento, a criatividade, o talento.

O Grupo Corpo volta ao Rio para uma temporada no Teatro Multiplan. O programa tem dois de seus balés mais pedidos - "O Corpo" (2000), com trilha de Arnaldo Antunes; e

"Parabelo" (1997), com música de Tom Zé e José Miguel Wisnik.

Poderiam parecer criações que se opõem: cidade e sertão, rock e MPB, Brasil profundo e a megalópole. E a essência da companhia: tudo que é Brasil tem que estar em cena.

"Parabelo" nos remete ao universo glauberiano de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) quando Corisco, com uma Parabelo na mão, diz "eu não me entrego não".

O mais brasileiro de seus trabalhos, como cita Rodrigo Pederneiras, tem ex-votos nos cenários; Tom Jobim, Gonzaga; rabeca pernambucana, percussão, sanfona, violões e vozes; xote e xaxado no movimento dos quadris, nos corpos com malhas de pernas e mangas compridas em variações de vermelho, laranja e amarelo, no início cobertas de tule negro. Uma explosão de sertão.

Já "O Corpo", primeira criação para a dança do compositor, escritor, poeta e performer Arnaldo Antunes, traduz as engrenagens, os mecanismos que nos lembram da cidade/locomotiva. A peça de oito movimentos gravada com instrumentos acústicos, elétricos e eletrônicos; ruídos orgânicos como grunhidos, gritos e sangue nas veias fundem-se com guitarras, violões, teclados, baixo e as vozes de vozes de Arnaldo, Saadet Türkoz e Mônica Salmaso (esse presente vocal).

Há que se ir, se ver, se emocionar, inspirar, respirar e unir as mãos no estrondo de aplausos que O Corpo merece.

SERVIÇO

O CORPO | PARABELO

Teatro Multiplan (VillageMall - Av. das Américas, 3900 - Barra da Tijuca)

Até 2/6, de quarta a sábado (20h) e domingos (17h)

Ingressos entre R$ 20 (meia) e R$ 280