Por:

O sonho de menina que se realiza

Cícero Gomes e Márcia Jaqueline nos ensaios de 'La Fille Mal Gardée' | Foto: Daniel Ebendinger/Divulgação

De origem humilde, filha de um vendedor de rua e de uma costureira, Márcia Jaqueline, Primeira Bailarina do Theatro Municipal, passou muito perrengue até alcançar este cargo. Ainda estudante da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, a bailarina de Inhoaíba, na Zona Oeste, contava as moedas para pagar as passagens de ônibus, junto com sua mãe. Sempre driblando as dificuldades financeiras, as duas enfrentavam grandes caminhadas, debaixo de chuva ou de muito calor, no trajeto da Central até a Escola. Mas todo este esforço valeu a pena. Marcinha como é conhecida pelos amigos e colegas, ama o que faz e revela o seu verdadeiro amor.

"Dançar é libertador… é ser o que eu quiser, sentir tudo sem medo de nada", afirma ela, que volta ao palco do Municopal na atual tempoorada de "La Fille Mal Gardée", no mesmo papel de 20 anos atrás.

'La Fille Mal Gardée' é um balé cómico em três atos e três quadros, tendo sido representado pela primeira vez em Bordeaux (França), em 1789. Foi produzido e coreografado por Jean Dauberval sobre temas musicais de vários compositores, entre eles o francês Ferdinand Hérold (1791-1833). Narra o romance de Lisa, filha de Simone, uma rica fazendeira, com o camponês Colas. Este é despedido, pois Simone pretende casar sua filha com Alan, filho do rico Thomas.

Em julho do ano passado, Márcia Jaqueline teve o rompimento de ligamentos durante um ensaio e precisou parar tudo. Após uma cirurgia bem-sucedida, passou a fazer intensa fisioterapia e somente agora está apta para subir ao palco novamente.

Trajetória no Municipal começou aos 14 anos

Márcia Jaqueline em Don Quixote em 2022 no palco do Theatro Municipal | Foto: Daniel Ebendinger/Divulgação

Márcia Jaqueline ingressou no corpo de baile do Theatro Municipal aos 14 anos. Em 2007, foi promovida a Primeira Bailarina, passando a dançar os papéis principais em todos os espetáculos apresentados pela Companhia, com destaque para Odette e Odile ("O Lago dos Cisnes", de Yelena Pankova), a Rainha das Neves ("O Quebra-Nozes", de Dalal Achcar), Ninfa ("Floresta Amazônica", de Dalal Achcar), Kitri ("Don Quixote", de Dalal Aschcar), Tatiana e Olga ("Onegin", de John Cranko), Julieta ("Romeu e Julieta", de John Cranko), Swanilda ("Coppélia", de Enrique Martinez), Aurora ("A Bela Adormecida", de Jaroslav Slavick), Giselle ("Giselle", de Peter Wright), Lise ("La Fille Mal Gardée", de Frederick Ashton). Em seu repertório, também incluem obras de George Balanchine ("Serenade e Divertiment nº 15"), Roland Petit ("Carmen e L'Arlesienne"), Michael Fokine ("Les Sylphides" e "El Espectro de la Rose"), Uwe Scholz ("A Criação" e "Sétima Sinfonia") e Glen Tetley ("Voluntaries").

Em "La Bayadere" (2014), de Luiz Ortigosa, Márcia interpretou as personagens Nikyia e Gamzatti, fato que rendeu aplausos e elogios do público e da crítica especializada destacando a sua versatilidade e capacidade artística.

A bailarina atuou em importantes palcos como o Teatro Colón (Buenos Aires) e Sodre (Montevideo) e dançou como convidada também em importantes eventos como o Festival de Miami (EUA) e o Gala das Estrelas, na Ilha de Creta (Grécia).

Em 2017, Marcia se tornou membro do Ballet Landestheater, de Salzburg (Áustria), a convite do atual diretor Reginaldo Oliveira. Incluindo em seu repertório os papéis principais dos ballets "Medea", "Othello" e "Romeu e Julieta" (Reginaldo Oliveira), além de "Cinderela" (Peter Breuer). Em 2019, convidada para o evento Live Magazine, dançou em importantes cidades da Europa, como Paris, Amsterdã e Arles.

Márcia voltou ao Brasil em 2021, retomando seu posto junto ao Municipal. Ainda em 2021, a convite da coreógrafa Dalal Achcar, atuou como bailarina e professora convidada junto a Cia de Ballet Dalal Achcar, onde criou seu primeiro ballet "Macabea", com pré-estreia em agosto, no Teatro Santa Cecília, em Petrópolis e estreia no Teatro Riachuelo.

SERVIÇO

LA FILLE MAL GARDÉE

Theatro Municipal (Praça Floriano s/nº - Cinelândia)

Até 25/8

Ingressos: R$ 90 (frisas e camarotes, individual), R$ 80 (plateia e balcão nobre), R$ 50 (balcão superior e lateral) e R$ 30 (galeria central e lateral)