Dos satélites para o mundo: a arte da dança no Distrito Federal

Companhias de dança de Taguatinga e Planaltina e Taguatinga alçam voos para alcançar o país e o exterior

Por Mayariane de Castro

A Cia Flyer busca recursos para se apresentar na Itália

Os bailarinos da Flyer Cia. de Dança vivem um misto de alegria e ansiedade. No início do ano, eles ganharam um prêmio no Festival Puls'arte, em São Paulo, que lhes garantiu uma vaga em um festival que acontecerá na Itália em 2025.

Grande alegria por receber o prêmio. Grande ansiedade agora para conseguir viabilizar a viagem. A vaga no festival está garantida, mas a companhia precisará custear o deslocamento e a estadia. Ainda não conseguiu patrocínio para a empreitada, e a ida, então, irá depender da arrecadação que conseguirem.

São os desafios de quem faz arte. Seja no Distrito Federal ou em outros cantos do país. Desafios que também surgem para a Transições Companhia de Dança e Artes, do Planaltina, que completa dez anos com a expectativa de fazer um intercãmbio no Recife, referência cultural para a dança que praticam.

As companhias Flyer e Transições se apresentaram na III Mostra de Dança de Planaltina, entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro. O Correio da Manhã acompanhou as apresentações. Veja abaixo como foram os dois espetáculos:

A Transições Companhia de Dança e Artes reapresentou o espetáculo "Atos de Fé: o que te move" como abertura da III Mostra de Dança de Planaltina, que ocorreu no Complexo Cultural de Planaltina. A peça aborda os sentimentos e as inquietudes que cercam a condição humana e faz uma reflexão sobre o sentido da vida.

O processo criativo foi liderado pelo coreógrafo e diretor do grupo, Lehandro Lira. Porém, as coreografias foram desenvolvidas em processo participativo e de cocriação com todos os bailarinos. "A temática do espetáculo foi inspirada nas energias e nos motivadores pessoais de cada indivíduo e bailarino, buscando trazer significado para suas vidas, ajudando-os a sobreviver às mais variadas adversidades e dores que cercam a condição humana", explicou.

Medo, fome, desamparo, pobreza, miséria, violência e desamor permeiam a existência das pessoas, exigindo delas procurar forças onde ela parece não existir. De modo que a fé na vida, no amor, na arte, na esperança, os move e oferece o motivo para a cada dia e partir para a luta por dias melhores e pela ascensão diária, como o diretor acrescenta. O espetáculo conta com 12 coreografias como uma referência a diversas manifestações espirituais e religiosas, como os 12 apóstolos e os 12 astros.

Fundada em 2014, a Transições Cia de Dança e Artes, já se tornou um marco cultural na região administrativa de Planaltina, cidade sede da companhia desde a sua criação. "A missão do grupo é resgatar, por meio da dança e da junção de corpos híbridos em formação, a herança da cultura popular brasileira no cenário contemporâneo", diz Lehandro.

Reconhecida fora do território brasiliense, a companhia foi contemplada novamente em janeiro com o edital da Secretaria de Cultura do DF do projeto Conexão Cultural, recebendo apoio e fundos para um intercâmbio cultural no Recife, berço das referências do grupo.

A Flyer Cia de Dança, companhia profissional de dança contemporânea de Taguatinga, realizou a abertura da III Mostra de Dança de Planaltina, como grupo convidado com o espetáculo Como Nossos Pais.

Trilha nostálgica

A obra se inspira nas trilhas de músicas populares brasileiras onde o coreógrafo Leandro Mota desafia o elenco de bailarinos a criar laços afetivos com as canções que eram ouvidas por gerações passadas, como as dos pais dos bailarinos. "Sempre costumo dizer que a obra tem que tocar a gente primeiro antes de chegar ao público. É um espetáculo emocionante e cheio de significados que carregam muita nostalgia e saudade dentro da proposta", diz o diretor.

De Caetano Veloso a Gal Costa, de Cazuza a Zeca Baleiro, cada uma das coreografias do espetáculo carrega consigo um significado e uma roupagem específicas. O coreógrafo aproveita as nuances musicais para mesclar a dança contemporâne com outros estilos de dança, como o jazz, para que o elenco possa caminhar por outros caminhos.

Para o bailarino Lamôni Chagas, o espetáculo vai além das lembranças e emoções. "Para mim, significa a justificação e as lembranças, justifica o porquê eu danço, me faz lembrar para quem eu danço. Desde o processo de criação até as reapresentações, é sempre uma emoção diferente, que me faz lembrar toda vez da minha dança e qual é a minha essência", relata o artista.