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Quase 100 anos de religiosidade

Luiz Angelo da Silva, o Ogan Bangbala, o mais antigo ogan alagbê vivo no Brasil, aos 105 anos de idade e 98 de vida religiosa, é tema de exposição no Centro Cultural dos Correios | Foto: Milena Trindade/Divulgação

Numa exaltação e imersão na riqueza das matrizes culturais africanasa, a exposição "Vida na Fé - Matriz Africana - edição Bangbala" está em cartaz no Centro Cultural Correios. A mostra busca resgatar, preservar e apresentar as tradições, rituais e expressões artísticas que compõem a herança africana, fomentando o entendimento sobre a influência fundamental dessas matrizes na formação da cultura brasileira.

Com fotografias de Milana Trindade, curadoria do Babalorixá Professor Anderson Bangbose e pela Prof. Elaine Marcelina, e direção de Fábio França, a exposição celebra Ogan Bangbala (Luiz Angelo da Silva) que, aos 105 anos de idade e 98 anos dedicados à religiosidade, continua a cantar e tocar para os orixás.

Segundo o curador e Babalorixá, Anderson Bangbose, Bangbala é uma figura crucial na construção e pavimentação de grandes terreiros tradicionais no Rio e Salvador, sendo o mais antigo ogan alagbê vivo no Brasil e ainda em atividade. Em novembro de 2014, Ogan Bangbala foi agraciado com a medalha de Comendador pela presidente Dilma Rousseff, uma honraria da Ordem do Mérito Cultural.

No Candomblé, o ogan é responsável por tocar instrumentos de percussão, como atabaque ou agogô, e cada cena é um convite para entender a importância dos ogãs no candomblé. Mestres da percussão, cujas as mãos trazem os sons que chamam os espíritos e guiam os fiéis em suas jornadas espirituais.

"A exposição Vida na Fé - Matriz Africana. Edição Ogan Bangbala é mais do que uma exibição, é um convite para mergulhar nas raízes culturais africanas e celebrar a resiliência e a beleza da cultura afro-brasileira. Venha vivenciar esta jornada emocionante e descobrir as histórias, os símbolos e os personagens que continuam a moldar nossa identidade cultural", convida o Babalorixá e curador.

O Brasil é um dos países que mais receberam escravizados africanos e, por isso, a cultura brasileira é baseada nas diversas culturas africanas. Desta forma, as religiões de matrizes africanas desempenham um papel vital na história do Brasil, permeando a música, dança, religião, culinária e valores sociais. No entanto, essa influência muitas vezes é subestimada ou obscurecida. "É crucial que projetos culturais como o nosso busquem resgatar e preservar essas tradições, para que as futuras gerações possam compreender a profunda contribuição africana para a nossa diversidade cultural", pontua Fábio França, diretor da exposição.

A professora e também curadora, Elaine Marcelina, reforça que a motivação para a idealização deste projeto parte do desejo sincero de combater a marginalização das culturas africanas e oferecer um espaço inclusivo onde suas riquezas possam ser apreciadas e compartilhadas. "Nossa equipe, composta por estudiosos das culturas africanas e afro-brasileiras, está profundamente comprometida em disseminar conhecimento e promover a coexistência harmoniosa de diferentes heranças culturai", destaca.

Após uma vasta pesquisa para a realização da exposição "Vida na Fé - Matriz Africana", a direção produziu um documentário sobre a vida e a obra de Luiz Angelo da Silva, mais conhecido como Ogan Bangbala. Dirigida por Fábio França e pelo Babalorixá Anderson Bangbose, a obra é uma epopeia visual e emocional sobre a trajetória do ogan. Aos 105 anos de idade, com quase um século dedicado à religiosidade dos orixás, Bangbala é uma testemunha viva das tradições que moldaram e ainda influenciam a cultura afro-brasileira.

De acordo com o Babalorixá Anderson Bangbose, o filme é pontuado por depoimentos de figuras proeminentes no culto aos orixás, enriquecendo a narrativa com perspectivas diversas sobre o impacto de Bangbala na preservação e na celebração das tradições afro-brasileiras. Estas vozes coletivas, junto com as imagens evocativas de rituais e festividades, compõem uma narrativa onde o passado e o presente se encontram, onde a fé e a história se abraçam.