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O pai francês da HQ brasileira

Trecho de 'O Namoro', a primeira HQ produzidao Brasil | Foto: Instituto Sébastien Sisson

Boa parte de eventos marcantes da história social e política brasileira do período imperial ganharam destaque graças aos retratos feitos por Sébastien Auguste Sisson. Em celebração ao bicentenário de nascimento do artista francês radicado no Brasil, a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) recebe a exposição "Sisson, 200 Anos", que exalta a obra do autor da primeira história em quadrinhos (HQ) do Brasil e da maior coleção de retratos originais publicados no país. A exposição é uma parceria da FBN com o Instituto Sébastien Sisson.

Com curadoria de Bárbara Ferreira, a exposição reúne obras raras da iconografia brasileira e demais itens históricos de grande valor, oferecendo uma jornada única pela história do Brasil por meio do estreito relacionamento do artista com a Biblioteca Nacional e do grande acervo de sua autoria preservado pela instituição.

A exposição traz mais de 170 itens históricos que apresentam a especialidade artística de Sisson: os retratos litografados. São mais de 100 retratos de personalidades históricas do Brasil do século XIX, entre eles de D. Pedro II e de José de Alencar.

Outras duas importantes vertentes artísticas de Sisson serão exibidas: as belas gravuras de paisagens e monumentos da segunda metade dos anos 1800 e divertidas charges e caricaturas que ilustraram periódicos daquela época, incluindo a primeira história em quadrinhos brasileira ("O Namoro, Quadros ao Vivo"), publicada em "O Brasil Ilustrado" de 15 de outubro de 1855.

Sébastien Sisson tem sua história intimamente ligada à Biblioteca Nacional. Na mais antiga instituição cultural do Brasil, fundada em 1810, o artista foi responsável por restaurar gratuitamente inúmeras gravuras que tinham se desgastado ao longo dos anos. Tal feito rendeu-lhe condecorção dada pelo imperador D. Pedro II.

Para o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, Sisson é uma das "lentes mais poderosas do século XIX no Brasil" por ter ampliado o olhar a respeito da história do próprio país por meio da litografia. "Sisson deu rosto ao que hoje talvez não alcançasse mais que uma frase ou parágrafo. Permitiu a realização de biografias ilustradas, em sua famosa e rara galeria. Uma perfeita conjunção entre a arte da foto e da litografia, mediante uma correta utilização do claro-escuro, da distribuição das figuras, bem como de certa imaginação e delicada ironia", observa.

"Foi também uma artista conhecido pela sequência de imagem e palavra, como percurso de quadrinistas, entre o palácio e a rua, o rosto e a paisagem, sem perder uma atmosfera difusa, nítida e eloquente, quanto mais sutil e difusa", acrescenta.

Genealogista e designer, empresária do ramo de memória, especialista em Projetos de Design de História de Família, Bárbara explica que o início de sua paixão por genealogia foi por acaso. Interessada em desvendar detalhes sobre a família do marido, Christian Sisson, tataraneto de Sébastien, a curadora resolveu pesquisar sua árvore genealógica. Ao descobrir a participação importante do tataravô do esposo na história do País, percebeu que tinha algo extremamente valioso em mãos e, assumindo para si a responsabilidade de cuidar dessa memória, decidiu criar o Instituto Sébastien Sisson (sebastiensisson.org), do qual é diretora-geral.

Nascido em 2 de maio de 1824 na cidade em Issenheim, região da Alsácia, na França, Sisson chegou ao Brasil, na então capital do Império, o Rio de Janeiro, em 1852, aos 28 anos de idade, onde se estabeleceu como desenhista-litógrafo, produzindo uma obra artística notável de grande relevância histórica.

No País, para além dos retratos, o litógrafo também se tornou conhecido por realizar gravuras dos cenários do Rio de Janeiro do século XIX. E indo além, Sisson tinha a preocupação em promover as artes por meio da educação. Por isso, o artista foi um dos 99 fundadores da Sociedade Propagadora das Belas Artes, que, por meio do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, promoveu gratuitamente o ensino técnico-profissional e artístico no Brasil.

SERVIÇO

SISSON, 200 ANOS

Biblioteca Nacional (Av. Rio Branco, 219)

Até 22/1, de segunda a sexta (10h às 17h)

Entrada franca