Delírios nascidos do barro
Exposição da artista Rosana Pereira reluz cerâmicas do Vale do Jequitinhonha

Rosana Pereira nasceu no Vale do Jequitinhonha e carrega no barro a herança de sua família. Representante da terceira geração de ceramistas, ela cria esculturas figurativas que integram coleções públicas e privadas voltadas à produção popular no Brasil. O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Iphan, no Catete, inaugura a programação de 2025 do Sala do Artista Popular (SAP) com a exposição individual "Fantástico Feminino: A Arte de Rosana Pereira".
A mostra traz peças inéditas da artista, que mesclam figuras humanas e animais em composições carregadas de humor, ora inspiradas no cotidiano, ora envoltas em atmosferas românticas. A entrada é gratuita, e o público tem acesso a um catálogo produzido especialmente para a exposição. Todas as obras estão à venda.
Acompanhando pessoalmente a montagem da exposição, Rosana deixou sua marca ao estampar flores com as próprias mãos nos módulos da galeria. "Mostrar meu trabalho no Rio é uma grande oportunidade", afirma. Sua família vive no povoado de Córrego Santo Antônio (MG). Desde a infância, modela o barro, primeiro como brincadeira, depois como ofício. "Mesmo pequena, já vendia o que criava nas feiras", recorda. Ao visitar o acervo do CNFCP, surpreendeu-se ao encontrar uma peça feita ainda na infância. "Jamais poderia imaginar", diz. A visita ao Rio foi breve, mas sua obra segue em exibição até 18 de maio.
Mãe de Nicole, Mariela e Joaquim, de 14, 6 e 3 anos, Rosana conta que os filhos costumam modelar barro enquanto ela trabalha. Aos 36 anos, diz que a fusão entre figuras humanas e animais surgiu por acaso, como uma forma de diferenciar seu trabalho. Embora conviva com cães e gatos, é da imaginação que extrai suas criações. Entre suas peças, há noivas carregando noivos, casais conversando e crianças brincando. Pouco afeita a conversas extensas, transfere para suas esculturas um olhar bem-humorado sobre a vida. "O que não expresso pessoalmente, coloco nas peças. Muitas vezes, me pego rindo sozinha ao ver um trabalho pronto. É gratificante ver a obra exatamente como imaginei", diz.
Desde 1983, o Programa Sala do Artista Popular incentiva a comercialização do artesanato produzido nos mais diversos cantos do país, reunindo mais de quatro mil artesãos ao longo dos anos. Para Rafael Barros Gomes, diretor do CNFCP, trata-se de uma política cultural de grande impacto. "Há mais de 40 anos, o programa traz artistas e suas obras para exposições no Museu de Folclore Edison Carneiro, que conta com um espaço dedicado à venda dessas produções", ressalta. Além de impulsionar o artesanato tradicional em todo o Brasil, o SAP se destaca como uma iniciativa pioneira na formulação de políticas voltadas à preservação e à valorização das práticas artesanais enraizadas nas comunidades brasileiras.
SERVIÇO
FANTÁSTICO FEMININO: A ARTE DE ROSANA PEREIRA
Sala do Artista Popular (Rua do Catete, 179)
Até 18/5, de terça a sexta-feira (10h às 18h) e sábados, domingos e feriados (11h às 17h) | Entrada franca