Por: Carlos Monteiro | Textos e fotos

O Rio amanhece cantante

Fotocrônica 7/6/2024 | Foto: Carlos Monteiro

O dia amanheceu cantante. Um certo espírito desafiador pairava no zéfiro. Desconfio que eram Jakson do Pandeiro e Emilinha Borba numa desgarrada. Um duelo musical em que, Jack e seu pandeiro, apontava um mascar de canto de boca, um chiclete com banana e gritava: A, E, I, O, U, Y(pissilone). Acabou sendo retrucado, veementemente, pela "Garota grau dez favorita da Marinha": "a Chiquita é bacana e se veste com casca de banana sim, e daí?". Existencialista como o sol de um, quase verão. A confusão acabou com a chegada de Dalva: "Bandeira Branca...!", afinal, branca é a tez da manhã. Com certeza o limbo está em festa, é o samba-rock meu irmão.

Amanheceu zimbrando. A impressão é de rocio, uma certa orvalhada. Chora, talvez, diante de tanta insensatez, diante de tanta falta de amor. Amanheceu borriçado, borraceiro. Amanheceu macambúzio, sorumbático. Talvez nem quisesse, com o 'frio' que se avizinha, preferisse ficar quietinho sob a cobertura dos nimbulus, cumulus e stratos. Dias assim, apesar do brilho que a garoa proporciona ao tornar os pisos da cidade em verdadeiros espelhos, não rendem muitas fotos.

O Sol, está lá, apareceu no firmamento, mas, apesar de seu esforço em se desvencilhar da nébula que envolve a Cidade Maravilhosa, qual o quê, inútil foi! Então assim, nas calhas das rodas e das casas, descem às lágrimas da natureza. Nas das rodas, escreve Pessoa, o coração, nos canos a realidade. O dia alvoreceu pura poesia de Paulo Coelho e Raulzito. O Sol anda ousado, numa dança sensual, quase erótica, serpenteia pelas costas de Íbis, beija-a, afaga-a, acarinha-a, adoça-a. O(n)de há açúcar, há afeto.

Hoje foi pura timidez. A passarada é que está meio ausente; parecem ter ido cantar e piar em outras freguesias. A Lua vivencia um minguar, desinfla pouco a pouco, tem se mostrado bela, faceira, muitas vezes por entre as nuvens se escondeu.

Venta, ventania matinal. Venta forte, venta alto, súplica para a vida melhorar, o tal lugar-comum dos 'dias melhores virão', quem sabe são sopros naturais anunciando um novo tempo de sensatez e esperança.

Rio, vejo-te com emoção, maravilhosa, vejo-te sol, acolho-te lua. Canto-te em verso, quem sabe, em prosa. Falo contigo. Tu me ouves, me respondes, revida meu amor por ti. Ah cidade amor, oh musa escancarada em luz, oh Ria, ria, rio, Rio. Serás janeiro? Serás leal? Serás sorriso? Será admirável? Será cidade, serás puro e belo mosaico escancarado de beleza. Mar-floresta, urbana cidade.

Serás Rio de Janeiro a janeiro? Serás fiel? "Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão." Escreveu Charles Baudelaire.

Sempre bons-Rios.