Costumávamos nos encontrar para bater longos papos, pondo a conversa em dia, quando em vez no território livre do Baixo Gávea, onde Evandro-Vanvam era assim uma espécie de guru; misto de herói e conselheiro. Fazíamos uma 'peregrinação' entre a sua casa e o Talho Capixaba, com muitas paradas para cumprimentos e umas compras ali e outras acolá.
Ficávamos devidamente aboletados sempre às mesas mais próximas ao fluxo frenético de pessoas e carros naquela cafeteria-padaria envolta em discreto charme. Falávamos de tudo um pouco. Vanvam sempre atento, com um olho no café e o outro no entorno irrequieto do vai e vem na calçada, muito provavelmente em busca do personagem ainda não fotografado. Contávamos histórias e peripécias da fotografia e dos nossos cotidianos. Uma das vezes ele me explicava a importância de ir ao Mercadão de Madureira, não para fotografar ou observar figuras especiais - coisa que fazia até dormindo em seus sonhos, mas para comprar vassouras.
- Vassouras?
- Monteiro: só as de lá prestam!
Atravessava a cidade em busca da Leica-Hasselblad da salubridade e, evidentemente, conseguia assim como tudo que se propunha fazer.
Em um de nossos últimos encontros levei uma de suas muitas obras, comprada nos anos 1980 na antológica Dazibao de Ipanema: Evandro Teixeira - fotojornalismo, publicado pela Editora JB, que foi por mim cuidadosamente guardada e serviu como fonte que muitas vezes bebi. Nela suas mais emblemáticas e impactantes imagens até aquela década.
Curioso e cheio de 'achismos' perguntei-o, já seguro de que sua resposta seria a "Passeata dos 100.000" ou "Os meninos da Mangueira", qual a foto que mais amou fazer e que tinha como referência de 'dever cumprido'. Em moto-contínuo ele abre a página onde está a singela "Casamento em Paraty" e responde sem pestanejar: "Esta!" passando a narrar sua realização.
Tinha ido à Paraty numa matéria para o JB e ao se sentar em uma das cadeiras de um bar para um refrescante mate, no abafado veraniano pós-chuva da cidade, se depara com este casal saindo da Igreja de Santa Rita. O ano era 1969. Uma discreta elegância pairava no ar, uma sutil coincidência da porta lateral da sacristia entreaberta, a trégua da chuva... tudo conspirava para o clique, apenas um, com o consentimento do feliz casal.
Na sequência, observada por ele de longe, os noivos, que somados aos convidados não cabiam em uma só mão, foram comemorar o enlace em uma venda ao lado, regada a um pacote de biscoito Maria e uma garrafa de guaraná e, como encantados, desapareceram entre o casario secular e nunca mais foram vistos. Tive o privilégio de ouvir esta e tantas outras histórias maravilhosas e a possiblidade de fotografar o criador e a criatura.
Ele continua fazendo poesia-luminosa no firmamento, usando ângulos inéditos. Com certeza debatendo com o Britinho a estratégia mais eficaz para, em um feito totalmente inédito, fotografarem O Criador, cercado de seus mensageiros, não importando qual religião ou filosofia representem.