FotoCrônica: Dor de Amor

Por Carlos Monteiro | Textos e fotos

FotoCrônica 13/12/2024

Na semana passada vejo a entrevista, feita pelo elegantíssimo Pedro Bial ao cantor Lobão. Horas tantas, como sempre falava o saudoso Carlos Leonam, Bial 'solta' a seguinte frase: "...você fez literalmente roendo borda de pinico...", se referindo à "Me chama", composta em um momento de separação do roqueiro e a amada, que estava fora do país e não ligava para ele.

Me dei conta que as músicas mais impactantes, que "falam" de amores incríveis, são exatamente as que contam suas dores, seus desatinos e as decepções causadas pela separação.

Imaginei a despedida com uma trilha sonora. Aquela sensação de falha, de perda. A impressão de já ir tarde ou de que não devia ter vindo. Prenúncio de Odete Lara, ou da Tânia, personagem que vivia em um buraco, na verdade uma fossa, criada pelo Jaguar e pelo Ivan Lessa, na tirinha Os Chopnics, publicada em "O Pasquim" durante anos, da tristeza e da falta inevitável e inefável.

Alguns poetas descreveram, musicalmente, esta vereda desarmoniosa. São canções que, em algum momento, "ouvimos" num background imaginário, junto com a lágrima fugidia que disfarçadamente enxugamos, mas que insistiu em permanecer marejando sofridamente nosso olhar.

Esses poemas teriam sido escritos para um amor partido? Para um coração descompassado? Para um adeus quase inexistente, daqueles que não há? Em que pensavam Noel Rosa, Ivan Lins, Vitor Martins, Adelino Moreira, Enzo Passos, Ataulfo Alves, Accioly Neto, Lupicínio Rodrigues, Antônio Maria, Tom Jobim e Chico Buarque, que de todos o que melhor poetizou na despedida?

O impacto do instante, quando o afastamento é iminente. Naquela hora são ditas juras de amor, são feitos pedidos de desculpas, promessas de que tudo se ajeitará e voltará fortalecido, que o amor superará todas as dificuldades, desavenças e diferenças. Que amor não se joga fora, que a sorte não pode ser entornada, de forma tão leviana, pelo chão. O olhar é de adeus, de descrença, que se arrasta, que arranha, porque o amor deixa marcas que não são possíveis serem apagadas. Ficarão como tatuagens coronárias para sempre.

É chegado o instante que a trilha sonora vira hino, o copo se esvai em whisky com guaraná; Noites insones. Na vitrola, tocando tudo que lembra aquele amor, aquela dor de cotovelo e todo o ardor do sofrimento perene, sensação de fracasso. O apartamento se torna uma caverna profunda, fria e irrequieta. Não negar o amor, o carinho. A boca continua marcada pelo beijo, te adorando pelo avesso. Me chama, porque "nem sempre se vê lágrima no escuro e mágica no absurdo"!