A história que a Acadêmicos do Grande Rio leva este ano à Marquês de Sapucaí é transmitida de geração em geração nos terreiros de tambor de Mina da Amazônia paraense. Ela começa com a chegada de três princesas turcas à Amazônia, em busca de cura. Leonardo Bora, carnavalesco da escola, revela que o enredo "Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós" traz um tema nunca contado no Grupo Especial.
"É uma história de matriz oral que narra a jornada de três princesas turcas que, ao se encantarem em alto mar, atravessaram o espelho do encantamento, não conheceram a morte e se transformaram em entidades místicas. Elas chegam ao Brasil e se 'ajuremam' no coração da floresta, ou seja, participam dos ritos da Jurema Sagrada [religião que mistura elementos africanos e indígenas], tornando-se animais de poder", detalha o carnavalesco.
No desfile, a cantora Fafá de Belém vai representar a princesa Mariana, a mais velha das três princesas, que se apresenta na figura da arara cantadeira. A princesa Herondina, que é a do meio, e simboliza a onça, terá na avenida a atuação da atriz Dira Paes. A terceira, mais nova, Jarina, representada pela jibóia e pela borboleta, será a cantora Naieme.
A influência da canção "Quatro Contas", de Dona Onete, foi fundamental para a construção do enredo. Essa conexão com os mestres do carimbó é um dos elementos centrais da narrativa da Grande Rio. "Essa história está muito presente nos terreiros da Mina Paraense, um complexo religioso que mistura crenças africanas e indígenas. O próprio conceito de pororoca, o encontro das águas dos rios da Amazônia com as águas do oceano, simboliza essa fusão. O enredo é todo baseado nesse encontro, na hibridação, e é com esse espírito que a Grande Rio quer inundar a Sapucaí.
ENREDO: "Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós"
A Mina é cocoriô!
Feitiçaria parauara
A mesma lua da Turquia
Na travessia foi encantada
Maresia me guia sem medo
Pro banho de cheiro
Na “en-cruz-ilhada”, espuma do mar
Fez a flor do mururé desabrochar
Pororoca me leva... Pro fundo do igarapé
Se desvia da flecha, não se escancha em puraqué
Quem é de barro no igapó é Caruana
Boto assovia (oi) mãe d'agua dança!
Se a boiúna se agita... É banzeiro! Banzeiro!
Quatro contas, um cocar!
Salve a arara cantadeira!
Borboleta à espreita...
E a onça do Grão-Pará
Na curimba de babaçuê
Tem falange de ajuremados
A macaia codoense é macumba de outro lado
Venham ver as três princesas 'baiando” no curimbó
É doutrina de santo rodando no meu carimbó!
E foi assim... Suas “espadas” têm as ervas da Jurema
Novos destinos no mesmo poema
E nos terreiros, perfume de patcholi
Acende a brasa do defumador
Pra um mestre batucar a sua fé
Noite de festa! Curió marajoara...
Protege Caxias nas águas de Nazaré!
É força de caboclo, vodun e orixá!
Meu povo faz a curva como faz na gira!
Chama Jarina, Herondina e Mariana
Grande Rio firma o samba no Tambor de Mina!
Autores: Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davidson Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes