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Lembra daquela música?

Por Tony Goes (Folhapress)

Faça uma lista das músicas que marcaram a sua vida. Ao lado de obras de grandes astros, com carreiras que já duram décadas, é provável que apareça um ou outro hit fugaz, de um artista de quem nunca mais se ouviu falar.

São canções que tocaram muito durante um verão, um namoro, uma época feliz. Algumas enriqueceram seus autores, outras deram origem a gírias e dancinhas. São verdadeiras pérolas pop, únicas e irresistíveis.

Além de grudarem no ouvido, essas músicas têm outra característica em comum - fizeram um sucesso estrondoso, que nunca mais se repetiu. Alguns de seus intérpretes até emplacaram novamente nas paradas, mas sem jamais alcançar as alturas anteriores.

Outros parecem ter sido tragados pelo vórtex espaço-tempo - deixaram o showbiz, adotaram novos nomes e ocupações, sumiram do mapa.

Os americanos chamam esses artistas de "one hit wonders" - fenômenos de um sucesso só, em tradução do inglês.

O jornalista e apresentador Zeca Camargo é mais generoso. "Nós evitamos esse termo, pois não queríamos nada negativo", diz, a respeito do podcast "Depois Daquele Hit", criado e apresentado por ele. "Até porque muitos dos nossos entrevistados tiveram outros sucessos, mas só um verdadeiramente astronômico."

"Depois Daquele Hit" estreou ontem na plataforma de áudio Deezer. Cada um de seus 16 episódios, que serão lançados semanalmente, aborda um artista específico e a canção que o consagrou.

O primeiro episódio fala de "Totalmente Demais", da banda Hanoi Hanoi, de 1985. A música foi regravada por Caetano Veloso e Anitta e até batizou uma novela da Globo. Mais tarde virão nomes hoje algo esquecidos, como Companhia do Pagode ("Na Boquinha da Garrafa"), Cravo e Canela ("Lá Vem o Negão") e P.O. Box ("Papo de Jacaré").

"Esse podcast mexe com nostalgia", acrescenta Camargo. "Todo mundo cantou, dançou e foi a shows desses artistas." Alguns, aliás, fazem shows até hoje - é o caso, por exemplo, de Silvinho Blau Blau, vocalista do Absyntho, que incorporou a seu nome artístico parte do título do único grande hit de sua banda, "Ursinho Blau Blau".

Na lista de entrevistados do podcast há gente do calibre de Vinícius Cantuária, que embalou o Brasil em 1984 com "Só Você". Hoje um respeitado músico de estúdio, Cantuária teve um outro sucesso, "Lua e Estrela", mas na voz de Caetano Veloso.

Também há um episódio dedicado ao "Rap da Felicidade" ("eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente pela favela onde eu nasci"), lançado em 1994 pelos MCs Cidinho e Doca, com produção do DJ Marlboro. A dupla voltou às paradas em 2005 com uma regravação do "Rap das Armas", lançada originalmente em 1995 pelos MCs Júnior e Leonardo.

Algumas histórias têm final feliz. A dupla Luan e Vanessa, que regravou a canção americana "Sealed with a Kiss" como "Quatro Semanas de Amor", se casou na vida real e hoje vive na cidade de McAllen, nos Estados Unidos. O cantor Byafra, de "Sonho de Ícaro", se formou em filosofia, escreveu um livro sobre o mito grego que inspirou seu hit e agora prepara um musical sobre o mesmo tema.

Outras são mais tristes. O grupo vocal Fat Family, de "Jeito Sexy", formado por membros de uma mesma família, perdeu dois de seus integrantes, os cantores Sidney e Deise Cipriano. Sérgio Sampaio, de "Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua", morreu em 1994, aos 47 anos.

"Já temos músicas suficientes para a segunda e a terceira temporadas", conta Jacqueline Cantore, que foi editora-chefe do jornalismo da MTV na época em que Zeca Camargo trabalhou na emissora e agora assina os roteiros dos episódios de "Depois Daquele Hit". "Perguntamos ao produtor Rick Bonadio qual era o segredo por trás de um sucesso avassalador, e ele respondeu 'depende do público, não dos artistas'."

"Não chegamos a nenhuma conclusão", conclui Zeca Camargo. "Alguns desses hits receberam investimentos da gravadora, outros foram totalmente randômicos. Quisemos saber dos artistas por que é tão difícil replicar um sucesso, e todos foram unânimes -'não é porque a gente não tentou'."

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