Eu quero ser o primeiro a saudar Iemanjá

Arpoador recebe festejos em honra da Rainha do Mar com samba, jongo, afoxé e gastronomia

Por Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Os festejos de Iemanjá no Brasil remontam ao século 19

Dia 2 de fevereiro, dia de festa do mar, como já cantava o mestre Dorival Caymmi. Essa data ela é muito importante em várias culturas, desde tempos imemoriais. É o primeiro dia da sétima semana, após o equinócio de inverno, prenúncio de possível primavera. Nos Estados Unidos, virou Dia da Marmota. Para os católicos também marca a comemoração da apresentação de Jesus ao Templo. E no Brasil, com seu sincretismo, se comemora Nossa Senhora de Santanna e Iemanjá.

A tradição remonta ao século 19 quando os pescadores se dirigiam, na Praia do Rio Vermelho, em Salvador, para fazer uma romaria no mar para Nossa Senhora da Ajuda. Em 1923, passaram a ofertar presentes para Iemanjá, pedindo boas pescarias. Ainda hoje, a festa de 2 fevereiro é uma das nossas maiores manifestações populares, levando centenas de milhares de pessoas a levarem os presentes: alfazema e flores.

No Rio, as comemorações acontecem no Arpoador com um evento, totalmente gratuito, vai das 15h às 22h, reunindo atrações como Samba de Criolo, Nina Rosa, Ogan Bangbala, Afoxé Filhas de Ghandy, Jongo do Vale do Café, Tião Casemiro, Ogan Kotoquinho, Pai Dário, Companhia de Aruanda, Orin Dudu, Iza Diordi, Ilê Axé Onixêgun e o músico Marcos André, idealizador desta celebração. Também vai ter a Feira Crespa, que vai levar gastronomia (acarajé), roupas e acessórios.

"A festa carioca para Iemanjá era uma tradição antiga inventada pelos terreiros nas areias da Zona Sul, liderada pelo célebre pai de santo e sambista Tatá Tancredo em 31 de dezembro, dia de Iemanjá na umbanda. Poucos sabem que essa foi a origem do costume de passarmos a virada do ano na praia - o que acabou se tornando a maior festa de rua do mundo, assim como a prática de vestir branco, jogar flores no mar e pular sete ondas", diz Marcos André, que mobilizou cerca de 120 mestres, entre líderes religiosos, artistas e filhos de santo, todos integrantes da rede de comunidades tradicionais que ele coordena em Madureira e em quilombos do Estado do Rio.

A parte gastronômica da festa será da Feira Crespa, uma ação afirmativa itinerante que tem como objetivos principais a valorização da mulher negra, o fortalecimento de afroempreendedores e o aumento do repertório dos participantes sobre a cultura afro-brasileira e sua história. O projeto traz o eixo econômico juntamente com o social e cultural, além da feira de afroempreendedorismo.

Aos 104 anos, o Mestre Bangbala - Ogan mais antigo do país em atividade e patrono do Dia de Iemanjá no Arpoador, vai conduzir o encontro, junto com Pai Dário, descendente da Casa Branca, primeira casa de candomblé do Brasil e um dos líderes do jongo do Morro da Serrinha.

Todas as oferendas do ritual serão biodegradáveis. Pede-se ao público que não leve plástico, vidro ou madeira. É uma saudação à Rainha do Mar, à sua morada e às forças da natureza. Somente flores e frutas serão oferecidas nas águas" Ao final, o público será convidado para um mutirão de limpeza das areias, calçadão e pedra do Arpoador.

"Essa celebração é um resgate e reconhecimento da história do Tatá Tancredo. Fico feliz de colaborar para devolver esse espaço no coração da Zona Sul para o povo de santo", completa Marcos André. E dizemos Odoyá, a palavra de Yemanjá. Que a Rainha do Mar nos proteja a todos.

SERVIÇO

DIA DE IEMANJÁ

Praia do Arpoador

2/2, a partir das 15h

Entrada franca