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A modernidade que apaga memórias: livro narra a polêmica demolição do Palácio Monroe

A saga do imponente Palácio Monroe, demolido em 1976, é tema de 'Tempos Modernos', livro do pesquisador Carlos Eduardo Drummond | Foto: Reprodução

Em nome da modernidade, o Rio de Janeiro passou por grandes transformações urbanísticas. O lado negativo desse histórico é o apagamento das memórias da cidade. O livro "Tempos Modernos" (Libris Editora), de Carlos Eduardo Drummond, esmiuça a polêmica saga do Palácio Monroe, bem antes de sua construção — passando por todo contexto histórico envolvido, — até sua demolição em 1976.

Na apresentação do livro, o historiador João Daniel Almeida comenta que o protagonista da pesquisa de Drummond é o Palácio, que abrigou o Senado Federal até a mudança do Distrito Federal para Brasília. "Sua trajetória é esmiuçada deliciosamente desde muito antes de sua construção, quando ainda era uma ideia. Uma ideia de modernidade neta das Exposições Universais", diz.

Em 12 capítulos, o livro percorre um arco de tempo partindo da aquisição do território da Louisiana — comprado pelos EUA da França, em 1803 — e vai até a polêmica demolição do Palácio Monroe, em 1976, lançando luz em muitos eventos históricos entre uma ponta e outra, no Brasil e no mundo.

Em sua pesquisa, o autor percebeu que não daria para contar a história do Palácio Monroe sem voltar no tempo para explicar a origem das Exposições Universais, vitrines da modernidade que vinham sendo montadas na Europa e nos EUA, numa época em que o Brasil ainda não era uma República e tampouco abolido totalmente a escravidão.

A existência do Palácio Monroe se insere nesse contexto, pois sua primeira versão serviu de Pavilhão Oficial do Brasil na Exposição Universal de Saint Louis (EUA), em celebração ao centenário da compra do território da Lousiana, onde recebeu um prêmio. Remontado no Rio de Janeiro no início do século XX, em pleno processo de modernização da cidade, com as obras da grande reforma urbana do Prefeito Pereira Passos em andamento, o Pavilhão Brasileiro finalmente ganhou seu nome definitivo em homenagem ao presidente americano James Monroe.

Cientes do atraso em relação às nações mais desenvolvidas, os governantes da época desejavam apagar a imagem colonial do país com ações que visavam propagar uma imagem moderna do país. Depois de realizar uma Exposição de âmbito nacional em 1908, no Rio de Janeiro, na qual o Brasil ganhou experiência no tema, o país se rendeu aos apelos de vários setores da sociedade para realização de uma Exposição Internacional em celebração ao Centenário da Independência, em 1922. Essa Exposição teve o Palácio Monroe como Bureau Oficial de Informações e cartão de visitas para entrada de visitantes no setor Internacional.

Até chegar a esse ponto, outras ações do governo foram executadas como pré-condições necessárias à montagem da grande Exposição, entrec as quais o arrasamento do Morro do Castelo, outra obra polêmica executada naquele período.

A maioria das construções citadas no livro foi demolida. Até mesmo o Monroe, que serviu ao país de várias formas, não foi poupado. Essa é, sem dúvida, a demolição mais polêmica e a que até hoje deixa muita gente inconformada. A demolição aconteceu durante a Ditatura Militar, no Governo Geisel, que teve participação importante na decisão.

Drummond conta que a ideia do livro nasceu em 2007, quando cursava uma Pós-Graduação em Relações Internacionais. Ele conta que sempre se encantou pelo universo das grandes exposições. Ao mesmo tempo, se junta ao coro dos inconformados com a demolição do Palácio Monroe.

"O caso do Monroe precisa ser lembrado de forma permanente. Aliás, mais do que lembrado, o erro pela demolição precisa ser reparado. Gerações vêm sendo privadas desse bem público de imenso valor histórico e ninguém até hoje realizou qualquer compensação. Em algum momento, esse Palácio precisa ser reconstruído", sonha o autor que rastreou documentos raros em instituições de pesquisa e memória, no Brasil e no exterior.

O autor ainda revela no Epílogo os vestígios remanescentes na cidade do que é narrado ao longo do livro. Suas últimas páginas funcionam como um guia turístico do Rio Antigo, indicando ao leitor endereços e locais da cidade que ainda possuem prédios, monumentos ou qualquer lembrança da época. É possível montar roteiros turísticos a pé, no Centro do Rio, para ver com os próprios olhos o que restou daquela época e o que desapareceu. Além de um importante documento de memória, o livro é uma leitura obrigatória para quem é apaixonado pela cidade e suas histórias.