Por: Olga de Mello | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA LIVROS: Leituras recomendadas para qualquerfaixa etária

Coluna livros 14/6/2024 | Foto: Divulgação

Desde o advento da série Harry Potter, o fenômeno literário que movimentou o fim do século XX, as editoras no mundo inteiro passaram a investir em títulos para jovens leitores, criando, inclusive o segmento "jovem adulto" - ou seja, livros que podem ultrapassar as barreiras de público aos quais foram originalmente destinados. Hoje, boa parte dos clássicos é considerada literatura para jovens, como Os três mosqueteiros, Tarzan, David Copperfield, entre tantos que não foram planejados para uma determinada faixa etária, por suas tramas envolventes e linguagem acessível.

Com tanta produção de literatura 'teen', não faltam excelentes títulos de estreantes, como Não sou a filha perfeita (Intrínseca, R$ 65), de Erika L. Sanchez, que chega ao Brasil sete anos depois do lançamento. O título original, que acrescenta o adjetivo "mexicana" à qualificação da jovem narradora, esclarece um dado cultural dos países da América do Norte. Imigrantes mexicanos vivem dentro de uma bolha étnica, como diversos grupos de descendentes de estrangeiros em solo dos Estados Unidos. A tradição católica exige que as mulheres jovens se mantenham castas e permaneçam ligadas à família, sem almejar viver numa cidade distante para fazer faculdade - um hábito arraigado entre os universitários norte-americanos. Apesar do texto ágil e contemporâneo, o romance pode ser apreciado por leitores de qualquer idade.

A protagonista Julia quer viajar mundo afora e tornar-se escritora, enquanto sua irmã mais velha, Olga, abraça o papel de filha exemplar. A morte precoce de Olga vai modificar os planos de Julia, que, aos poucos descobre o quanto a irmã era pouco convencional e estava distante da imagem de perfeição.

Finalista do National Book Award, o livro, que vai ganhar adaptação cinematográfica produzida pela atriz America Ferrara, foi um best-seller celebrado pela crítica pela consistência dos personagens e dos dilemas que vivenciam, não apenas pelo choque cultural, mas diante das expectativas dos adultos e dos próprios jovens quanto ao que fazer com o resto de suas vidas.

Gênero popularizado entre os jovens leitores, as histórias em quadrinhos alcançaram o status de trabalho literário devido, basicamente, à paixão e ao empenho de seus admiradores. O espanhol Paco Roca se destaca no gênero por abordar nos quadrinhos os dramas de gerações anteriores à sua. Em Regresso ao Éden (Devir, R$ 63), ele apresenta a história de uma família de baixa renda na Espanha do pós-Segunda Guerra Mundial, através de uma das raras fotografias do grupo, numa tarde de domingo, na praia, em 1948. As origens humildes dos pais, um cotidiano em que a agressividade é elemento de comunicação da família, a penúria que determina a convivência de várias gerações na mesma casa são mostrados com objetividade quase didática, sem deixar de comover o leitor pelo tom comedido das emoções abafadas, típicas dos nascidos no século XX.

Primeira mulher de origem marroquina a vencer o Prêmio Goncourt, em 2016, com o terrível Cantiga de ninar, Leila Slimani, também traz os choques culturais de imigrantes como tema principal de O país dos outros (Intrínseca, R$ 62,90). Mathilde, uma alsaciana, se casa com Amine, um soldado marroquino do exército francês, com quem vai morar no Marrocos. Isolada numa fazenda com os dois filhos pequenos, depois da Segunda Guerra, Mathilde sofre com as tensões sociais e religiosas na difícil adaptação a uma sociedade de costumes rígidos, principalmente quanto ao comportamento das mulheres.