Por: Isadora Laviola (Folhapress)

Iara Biderman: 'Livro é onde sefala dos outros sem culpa'

Iara Biderman revela que não gosta de dar um desfecho a seus contos, e sim deixar os finais em aberto para instigar a imaginação dos leitores | Foto: Acervo Pessoal

"Tantra e a Arte de Cortar Cebolas" é o primeiro lançamento literário de Iara Biderman, jornalista com mais de 40 anos de carreira e que começou a escrever ficção há seis anos.

A jornalista diz que ia escrevendo contos despretensiosamente até que encontrou sentido suficiente para publicá-los em coletânea. Se a linguagem do livro é bastante influenciada pelo jornalismo, Biderman culpa o "vício profissional" por sua escrita seca e direta, baseada em frases curtas.

Além da linguagem, os 21 contos que compõem a coletânea compartilham também temáticas similares com o jornal - as narrativas mostram pessoas se movimentando pelo cenário urbano, onde a solidão é uma realidade. "São pessoas em deslocamento, cruzando fronteiras, que não querem permanecer no lugar onde estão", conta a autora.

As fronteiras cruzadas pelas personagens vão além do espaço, ultrapassam fronteiras de incomunicabilidade para entrar em contato com o diferente. "Nos meus contos eu acho que quase todo mundo está meio perdido. E tudo bem que o leitor fique um pouco perdido também."

A estrutura dos contos de Biderman não finaliza a história, mas a deixa em suspenso. A autora afirma que nunca pensa em como os contos vão acabar e para de escrever quando sente que está protelando uma história. Além disso, também cortou partes de alguns contos para deixá-los com final mais aberto.

"Literatura contemporânea é isso, não ter que necessariamente dar uma resposta pronta e fechada", aponta Biderman, "O legal de publicar é que cada leitor pode dar seus caminhos e destinos para a história."

Para a autora essa é a diferença entre contar uma história no jornalismo e na literatura. "O didatismo eu deixo para a matéria de jornal", diz, acrescentando que considera um sinal de respeito não "levar o leitor pela mão".

A escritora afirma não se sentir no controle das histórias, que vai descobrindo os motivos das personagens ao longo da escrita: "Você nunca vai saber quais são as motivações de alguém, então você inventa".

"Eu sou perigosa, porque fico ouvindo o que as pessoas estão falando, observando o que elas vestem, e a partir daí invento uma história", diz Biderman.

A contista, então, encontra bastante inspiração em coisas que vê ou ouve pela cidade. "O livro é o melhor lugar para falar da vida dos outros sem se sentir culpada". Ao mesmo tempo, os contos também têm muito de suas próprias experiências.

A narrativa que dá nome ao livro nasceu de um momento de divagação na cozinha de casa, quando buscava inspiração para uma proposta da oficina de escrita criativa de que participava.

"Eu ia fazer o jantar, aí comecei a picar a cebola e falei, é a cebola." Foi daí que tirou a ideia para o conto "Tantra e a Arte de Cortar Cebolas", publicado pela primeira vez na revista Piauí em 2019.

A edição da coletânea acontece depois de um momento conturbado na vida da autora: "Minha mãe morreu logo depois de eu receber a confirmação de que o livro seria publicado, e meu pai, pouco antes de ir para a gráfica".

Fanny e Mauricio Biderman são lembrados na dedicatória deste livro que sua filha pretende que anteceda muitos outros.