Por: Aldo Tavares | professor-mestre em Filosofia

Mora na Filosofia: Papo com Anísio Teixeira

Anísio Teixeira | Foto: Reprodução

Quem pensou e realizou, pela primeira vez, a escola com tempo integral no Brasil foi o entrevistado de hoje, alguém capaz de misturar as inteligências da direita e da esquerda, porque Anísio Teixeira, para muito além do dualismo ideológico, pensa a escola. Pensou o processo educativo, criou escolas, universidades... Marcamos um encontro às alturas, no Forte do Imbuí, Niterói, onde conversamos ao som do vento sobre educação pública e sobre seu legado. Encontrar pessoas é encontrar palavras.

Seu aniversário é em 12 de julho, quantos anos?

Nasci em 1900, já são 124 anos.

Nem parece.

Nosso encontro não é com a aparência, é com as palavras, e elas jamais envelhecem, por isso sou atual.

Em que sentido atual?

No Rio de Janeiro, meu grande amigo Darcy Ribeiro possibilitou a construção dos Centros Integrados de Educação Pública, os CIEP; em São Paulo, minha amiga Marta Suplicy possibilitou os Centros Educacionais Unificados, os CEU; no Ceará, meu amigo Camilo Santana, atual ministro da Educação, possibilitou a escola integral. Como você sabe, passar o dia, manhã e tarde, na escola tem como origem a educação europeia cristã, e fui eu quem trouxe o tempo escolar integral para o Brasil, em Salvador, capital da minha Bahia, onde se edificou a Escola Parque.

No Rio de Janeiro, a ideia foi destruída.

O desmonte começou no governo de Moreira Franco e ele, infelizmente, permanece.

Anísio, e a escola pública sob a sua administração no Rio de Janeiro, quando a cidade era o Distrito Federal?

Quando entrei, selecionei as melhores cabeças do Rio para serem minhas conselheiras sobre educação pública, e isso significa que escolhi gente da esquerda, da direita, do centro e gente sem partido. Pensar a escola pública não passa por ideologias, por partidos, enfim, neutralizei maniqueísmos partidários em nome de uma política para educação, política essa que é pensar a educação a partir das diferenças.

Então, sua secretaria é composta por forças desiguais.

Isso mesmo. Com isso, mudei a estrutura e, como escrevi em "A crise da educação brasileira", pude lutar contra a uniformidade e a rigidez do currículo, contra os livros didáticos fracos e pobres, além de outras medidas.

Quais?

Professor não acumula várias escolas, várias funções, porque o professor é exclusivo: toma o café da manhã e leciona; almoça, repousa e leciona; e janta. Como o professor se dedica à educação, ele não administra a escola.

Mas isso é muito caro para o cofre público?

Muito caro é manter o preso na cadeia.