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Mais visibilidade para os novos autores

| Foto: Divulgação

Por Olga de Mello | Especial para o Correio da Manhã

É hora de os escritores inéditos no mercado editorial tirarem os originais de seus romances das gavetas - ou dos arquivos do computador - e concorrer à mais nova premiação literária brasileira. Criado pelo produtor cultura Henrique Rodrigues, o prêmio Caminhos da Literatura tem inscrições abertas até 21 de agosto. Em outubro, será anunciado o romance vencedor, que terá publicação pela editora Dublinense, com lançamento provável em 2025.

As inscrições - gratuitas - são pelo site www.premiocaminhos.com.br, onde é possível ter todas as informações sobre o prêmio ao consultar o edital. O vencedor receberá R$ 5 mil como adiantamento de publicação e já tem convite para participar da Festa Literária de Olinda, a Fliporto, em novembro.

A criação do Caminhos da Liberdade vem de uma separação depois de 20 anos de convivência. Em janeiro, Henrique Rodrigues foi desligado da curadoria do Prêmio Sesc de Literatura. Em março, a editora Record, que publicava os títulos premiados desde então, anunciou o fim da parceria com o Sesc. Rodrigues atribui sua demissão à recusa a impedir, meses antes, a leitura pública de trechos de Outono de carne estranha", o romance homossexual que havia ganhado o Prêmio Sesc 2024.

A nova premiação, que poderá ter outras categorias além do romance em novas edições, se propõe a buscar cada vez mais pluralidade, tanto nas temáticas quanto no estilo dos autores, como contam Henrique Rodrigues e Gustavo Faraon, editor e cofundador da Dublinense, em entrevista ao Correio da Manhã sobre a cena literária atual no Brasil.

ENTREVISTA / HENRIQUE RODRIGUES, GESTOR CULTURAL

'O Brasil não consegue aplicar em escala uma educação para a leitura'

Nos últimos anos, surgiram muitos novos autores no Brasil, impulsionados por publicações pagas e por novas editoras que também foram criadas. Como você vê esse ambiente de criação literária?

Henrique Rodrigues: Nunca houve tanta gente publicando livros. A tecnologia permite atender essa demanda. Se por um lado o processo ficou meio banal, e assim temos muito livro ruim por aí, por outro há mais chances de grandes autores conseguirem sair do anonimato. O lado ruim, ainda que não tenha uma relação direta com isso, é que o número de leitores, especialmente para livros que não sejam best-sellers, é muito pequeno. Infelizmente, por mais que haja feiras e festas literárias, compras de livros em editais e outras iniciativas, o Brasil não consegue aplicar em escala uma educação para a leitura, e assim não temos um sistema literário saudável.

De todos esses anos à frente do Prêmio Sesc, o que ficou de positivo?

Foram duas décadas ajudando a reescrever o mapa da literatura brasileira com grandes autores e obras. Naturalmente, foi muito aprendizado não só com o Prêmio Sesc, mas com todos os outros projetos de que participei nessas décadas na instituição. Lidar com as experiências positivas e negativas fazem parte do pacote, e é a partir dessas experiências que a gente segue em frente. Pensando nesse aspecto, o Prêmio Caminhos é, ironicamente, o resultado produtivo de uma sequência de sucessos e fracassos. Uma felicidade foi ver o Prêmio Sesc fazer com que um concurso voltado para desconhecidos tenha se tornado um dos mais respeitados na área por valorizar a qualidade do texto e a liberdade da escrita foi muito bonito.

ENTREVISTA / GUSTAVO FARAON, EDITOR

'Descobrir novas vozes

faz parte da nossa essência'

O surgimento de muitas editoras, algumas trabalhando com edições pagas pelos autores, dá alento ao mercado dentro de um país notadamente conhecido pelo baixo número de leitores?

Gustavo Faraon: Há uma piada entre os editores de que existe mais gente escrevendo do que gente lendo. Essa percepção de muita gente criando talvez seja sinal de um ambiente de criação vibrante. Em todo caso, para absorver tanta gente querendo publicar, claro que há editoras adotando os mais diferentes modelos econômicos, edições pagas, exclusivamente financiadas via Catarse e outros modelos coletivos, editais públicos etc. O mercado do livro vem encolhendo como um todo. E a única maneira de reverter isso, a meu ver, é aumentar o número de leitores, formar mais leitores. E valorizar e fazer aumentar o interesse pelo livro. Como fazer isso, aí já é outra história.

Por que a Dublinense decidiu participar dessa premiação?

Para a Dublinense, essa parceria significa acreditar no livro, na obra escrita, acima de todas as outras coisas. A associação a este novo prêmio literário é uma alegria. Não haverá qualquer interferência da editora em nenhuma parte do processo de escolha. Descobrir novas vozes faz parte da nossa essência como editores desde o nascimento da Dublinense. O Caminhos de Literatura tem potencial para revelar nomes que serão conhecidos pelos leitores brasileiros num futuro próximo e vai muito rapidamente virar o prêmio de originais referência do Brasil