Mal a TV ligou, surgiram às imagens do adeus a Rosa Magalhães, figura íntima das casas cariocas e nacionais há décadas, e que se tornou a carnavalesca com mais títulos em nossa festa maior.
Rosa é fruto da imensa árvore deixada por Fernando Pamplona, outro símbolo carnavalesco de glória. E num estalo, ouvindo as notícias, só de figuras do Carnaval a gente se lembra de nomes como Viriato Ferreira e Joãozinho Trinta - não precisa ser carioca para ser, incorporado de vez pela história da cidade.
É o caso do mineiro Telê Santana, que faria aniversário nesta sexta-feira, foi ídolo do Fluzão e foi um dos maiores treinadores da história do futebol brasileiro. No futebol a gente tem um monte deles, que vieram de inúmeros lugares e se consagraram aqui: os pernambucanos Ademir Menezes e Vavá, os paulista Romeu Pelicciari e Roberto Rivellino, o gaúcho Renato Portaluppi, dentre tantos outros.
No entanto, nenhum deles superou Moisés, o mitológico zagueiro dos anos 1970, em símbolo de carioquice: bom humor, irreverência, malandragem e, claro, Carnaval: foi Moisés que criou o famoso Bloco das Piranhas, que desfilava em Madureira, era basicamente composto por jogadores de futebol vestidos de mulher, e que arrastava multidões pelo bairro com cara de samba.
A história do Rio foi contada por muitos cronistas e, dentre eles, craques que também vieram de fora para ornamentar o texto carioca. Imediatamente lembramos do gênio capixaba Rubem Braga, logo associado a feras como os mineiros Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos, o também capixaba Carlinhos Oliveira e o incrível Ivan Lessa, que era inacreditavelmente paulista, mas só de nascença. Mais recentemente, a literatura brasileira tem o nome do imortal Ruy Castro, perfeita tradução do carioca nascido em Minas Gerais - e a ABL também conta com a genialidade de São Gilberto Gil, cidadão baiano do mundo cravejado na praia de Copacabana. Por lá está a maravilhosa Fernanda Montenegro, mas essa é carioca de corpo, alma e certidão.
Quanta gente boa brilhou e brilha no Rio? Falemos das letras, das artes em geral e dos esportes, da vida cotidiana. O cinema, o teatro, a música, as artes plásticas.
É o Rio, a mistura de gentes do mundo que chega neste lugar e incorpora seu espírito. São muitos sotaques, temperos e personalidades que se misturam, resultando numa química única.
Mesmo com a cidade tão sofrida e maltratada, ainda existe uma saída que só a arte proporciona. Muitas pessoas trabalharam muito no passado para que tivéssemos esse status. A maioria já não está por aqui fisicamente, mas suas assinaturas são eternas presenças.
Sofremos um golpe duro bem em Copacabana. Morreu Rosa Magalhães. Milton Cunha, um dos maiores símbolos da nossa alegria, acaba de aparecer em lágrimas na TV e não poderia ser de outra forma.
A última sexta-feira de julho não foi quente nem fria, nem nublada ou ensolarada. Isso deve dizer muitas coisas.