O ronco que move o samba

Músicos e pesquisadores, o brasiliense Paulinho Bicolor e o paulistano J. Muniz Jr. contam a história da cuíca a partir da trajetória de grandes nomes do instrumento

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Instrumento de origens africanas, a cuíca foi sendo adaptada ao longo dos anos e foi introduzida no mundo do samba pelo músico João Mina, tornando-se uma das principais sonoridades das baterias das escolas de samba

Dois entusiastas da música popular brasileira se uniram para contar a história de um dos instrumentos mais simbólicos no mundo do samba: a cuíca, cantada na clássica "O Ronco da Cuíca" (João Bosco e Aldir Blanc). O jovem pesquisador Paulinho Bicolor e o veterano escritor J. Muniz Jr. lançam o livro "Cuícas imortais: de João Mina a Boca de Ouro", primeiro volume de uma coleção com o objetivo de evocar renomados cuiqueiros e cuiqueiras que se consagraram por suas façanhas no decorrer do século XX.

A cuíca, um tambor de fricção bastante usado na percussão do samba, se desenvolveu no Brasil a partir de tambores centro-africanos de Angola e do Congo. Há referências sobre instrumentos bastante parecidos, oriundos de regiões onde viviam os kimbundos, ambundos e kiocos. Por aqui, o tambor dos bantos foi chamado, além de cuíca, de fungador, tambor-onça ou angona-puíta.

Nos primórdios do samba, as cuícas, muitas vezes construídas artesanalmente a partir de barricas e pequenos tonéis de madeira, exerciam funções ligadas à marcação do ritmo, explorando sonoridades mais graves. Aos poucos, porém, o instrumento foi se transformando, ganhando características sonoras mais agudas, batucando e repicando sonoridades peculiares em rodas, terreiros, escolas de samba e shows.

A partir da figura seminal de João Mina, batuqueiro do bairro do Estácio de Sá, que introduziu o instrumento nas escolas de samba, temos um passeio que mistura dados biográficos, modos de tocar, inovações, contribuições e heranças deixadas por nomes como Manoel Quirino, Bide, Generoso, Ministrinho e tantos outros. Continua na página seguinte