Retratos de um artista quando menino
Chico Buarque disfarça sua memória de ficção à la Fellini no livro 'Bambino a Roma'
"Que gente longe viva na lembrança/ que gente triste possa entrar na dança/ que gente grande saiba ser criança", cantarolava Chico Buarque lá num dos primeiros sucessos de sua carreira, em 1966.
Mais de meio século depois, é pela literatura que ele se lembra de gente de longe, ensaia seus primeiros passos de valsa e mostra que nunca se esqueceu de seus tempos de menino. Ou melhor, de "bambino".
O vencedor do prêmio Camões, aos 80 anos, volta sete décadas no tempo no livro "Bambino a Roma", que será lançado na próxima semana mostrando sua infância de calças curtas na capital italiana.
Quem conhece a obra de Chico sente as inspirações do país na sensação infantil "Os Saltimbancos", baseada na peça de Sergio Bardotti, e no disco "Per un Pugno di Samba", quando traduziu composições suas como "Sonho de um Carnaval", do começo deste texto, com arranjos de Ennio Morricone.
O disco foi lançado em 1970, durante sua segunda estada mais longa na Itália, exilado por causa da ditadura militar. É um período que o autor costuma querer deixar para trás. Por que, então, voltar ao país nessa obra de maturidade?
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