Bela capital onde Byung-Chul Han nasceu, marcamos nosso encontro no centro de Seul, num espaço aberto do templo budista da Ordem Jogyesa, cuja construção nos remete a 1395. À sombra de um pinheiro com 26 metros de altura, sentamos à mesa e pedimos o prato favorito das ruas da capital da Coreia do Sul, o tteokbokki, bolinhos de arroz macios com um molho picante e adocicado. Enquanto eu degustava pela primeira vez o alimento, saboreava as palavras de Byung-Chul sobre o poder. Após o bate-papo, realizamos nossos pedidos com as lanternas de lótus. Encontrar pessoas é encontrar palavras.
Qual foi o caminho para chegar à filosofia?
No final dos meus estudos metalúrgicos, me senti um idiota. Eu realmente queria estudar algo literário, mas na Coreia não podia mudar meus estudos, nem minha família teria permitido. Eu não tinha escolha a não ser sair. Menti para meus pais e me estabeleci na Alemanha, embora mal conseguisse me expressar em alemão. Eu queria estudar literatura alemã.
E a filosofia?
De filosofia, eu não sabia de nada. Descobri quem eram Husserl e Heidegger quando cheguei a Heidelberg. Eu, sendo romântico, fingi estudar literatura, mas li muito devagar, então não pude fazê-lo. Eu mudei para a filosofia. Para estudar Hegel, a velocidade não é importante. Basta ler uma página por dia.
Em 2022, a editora católica Vozes publicou um de seus livros, "Hegel e o Poder", você poderia falar um pouco?
Este meu livro explora a vida interior da filosofia hegeliana, na medida em que a ilumina a partir do fenômeno do poder.
Mas o poder não é um componente marginal do sistema hegeliano?
Não, o poder é sua constituição interna, e eu mostro nesse livro tanto seu brilho quanto seu limite.
O que é o poder?
De forma leviana, ele é coação, repressão ou violência, mas ele não é isso, porque o poder une, sendo a capacidade de se continuar inabalável no outro.
Mas Hegel não pensa o poder como repressão?
Ele foi o primeiro a pensá-lo como repressão, mas não se reduz a isso.
Então, nas páginas de Hegel e o poder, você pensa o poder não repressivo.
Isso mesmo, é o que escrevo, por exemplo, na página 117, onde o poder que determina não atua de modo repressivo, porque o poder deseja a amizade e, sobre o amigo, meu livro faz refletir quem ler.
Estranho.
Se não fosse estranho, não seria filosofia, por isso digo que o poder não priva o outro, ao contrário, ao dar liberdade, ele imprime outra forma de violência.