Animada ode à arte de ler
Sucesso de vendas nas livrarias e o êxito da série 'Ollie, o Coelhinho Pedido' ampliam o interesse do mercado infantojuvenil pela literatura de William Joyce
Durante as férias de julho, as boas vendas em livraria de "Bently & Egg" nas compras infantis e a recente versão de "Ollie's Odissey" para a Netflix (na forma da minissérie "Ollie, o Coelhinho Pedido"), ampliaram o prestígio do ilustrador, cineasta e escritor William Joyce comentando uma corrida por sua publicação mais famosa: "Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo".
Tem uma edição em capa dura dessa joia à venda na Amazon Prime e é possível encontra-lo pelos sebos virtuais da web também. Fuçando a internet, via Google Play, é possível chegar a uma aclamada adaptação da prosa de W. Joyce para os cinemas: "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore", ganhador do Oscar de Melhor Curta de Animação em 2012.
Vogais e consoantes são servidas a livros famintos em tigelas fundas, regadas a leite, como se fossem Sucrilhos, em um dos quebra-molas narrativos de "Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo", que traduz toda a fantasia do universo decorado de "literatices" de W. Joyce nos livros. No desenho derivado dessa fábula, ele teve um parceiro de criação: Brandon Oldenburg.
Voz autoral
Seu realizador, Willim Joyce, é um americano da Louisiana, hoje sexagenário, que foi um dos produtores do sucesso "Robôs" (2005), de Carlos Saldanha, e encontrou sua voz autoral ao partir para um formato de experimentação digital: seu curta virou um aplicativo de iPad, para assegurar ao diretor alguma lucratividade.
Com o Oscar, o produto, que assegurou para si um público leitor em gadgets eleotrônicos, alcançou uma nova encarnação na forma de livro, aqui lançado pela Rocco, e bem trazido por Elvira Vigna.
Modesto, ou Morris, é um Visconde de Sabugosa que alcança, na ficção, clarividência similar àquela atribuída à escritora e ilustradora inglesa Beatrix Potter (1866-1943). Lendas (que se tornaram ainda mais célebres após o filme "Miss Potter, com Renée Zellweger) falam que ela via os animais saltitantes e boquirrotos de sua obra em visões que mais eram exercícios de criação do que algum autismo iluminado.
Morris, na trama animada por Joyce, é como Beatrix: ele vê os relevos mais inusitado no acidente geopolítico de inclusão pelo assombro que a arte literária é. Por isso, pessoas que não leem são vistas por ele como almas sem cor. Cada uma delas que recebe um livro, adquire vermelhidão, "azulice", "amarelitude", negrume... É a vida que se instaura, entra e salta, pimpona. Estamos diante de uma ode à essencialidade do verbo "ler" como um exercício de empoderamento essencial. Quem lê não apenas sabe mais: vive mais... e melhor.
Como seu Sancho Pança etéreo, Morris conta com Humpty Dumpty, prosopopeia em forma de ovo que saiu da Carochinha, nas peripécias da Mamãe Ganso. A albumina falante testemunha cada passo do paladino consonantal de William Joyce como o Grilo Falante de Pinóquio. É seu guru, um Sr. Miyagi que guia seus passos numa dinâmica serena, de "Limpe o assoalho".
Cada gesto de Humpy Dumpty é de acolhimento, no ofício do coadjuvante que ajuda o personagem principal a trilha sua moira com o dinamismo da doçura. Sua presença engorda a carne de uma iguaria da animação independente dos EUA, gestada fora dos auspícios da Disney/Pixar, com espaço para ousar... e metáforas para encantar.