Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Cristiano Mello de Oliveira: 'Observo com bons olhos o cenário acadêmico brasileiro'

Cristiano Mello de Oliveira, professor da UFRJ | Foto: Divulgação

Professor universitário, o doutor em Letras Cristiano Mello de Oliveira trata a pesquisa científica como arte num canal do YouTube chamado "Humanitas". Por lá, passam medalhões da prosa, da ensaística e do pensamento acadêmico, compartilhando saberes em conversas cheias de bossa - e de reflexão. Cada papo pode ser encontrado no site oficial desse educador nascido em Nova Iguaçu. Na URL https://profcristianomello.com.br/, ele oferece cursos diversos e levanta debates sobre assuntos como Letramento Literário, expandindo a força da leitura. Autor da tese "O Novo Romance Histórico em Travessias: A República dos Bugres e Conspiração Barroca, de Ruy Reis Tapioca", Cristiano tem um encontro marcado esta noite, às 19h, em seu empório filosófico digital, com o romancista, professor da UFRJ e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Godofredo de Oliveira Neto. Os dois vão travar um papo animado sobre as dinâmicas da escrita romanesca e o terreno da História na criação artística.

Na entrevista a seguir, Cristiano explica de que forma a prática da entrevista online pode abrir novos espaços de análise para os estudos universitários do pais.

O que a vitrine aberta pelo Instagram e pelos canais de YouTube aporta para a divulgação científica? De que maneira a ferramenta entrevista, nessas mídias, ajuda a promover ideias em construção de teses e dissertações?

Cristiano Mello de Oliveira: A divulgação científica é uma área de interesse minha. Sempre tive muitos livros sobre o assunto de Metodologia Científica na minha biblioteca particular. Noto uma lacuna grandiosa sobre o assunto na Internet. O pouco que fazem é puro amadorismo. Em 2022, tive a ideia de compartilhar os conhecimentos adquiridos acerca da produção do conhecimento científico. Naquela época, durante o fim da pandemia, a melhor válvula de escape foi a internet. Observo que tanto o Instagram quanto o YouTube são ferramentas importantes para divulgarmos conhecimento investigativo sobre as Ciências Humanas. Em linhas gerais, a idealização do Canal Humanitas nasceu por meio de duas inquietações, a saber: compartilhar a rotina metodológica e científica acerca dos estudos realizados na área de Humanidades (Letras, História, Geografia, Filosofia, Artes, Sociologia etc.); entrevistar diversos pesquisadores e autores sobre a produção científica ou literária realizada. Existem pautas diferenciadas no canal, que conta com mais de 200 vídeos produzidos de forma independente. Já são mais de 20 lives/entrevistas realizadas. Durante as entrevistas, muitas ideias acerca da produção científica são interrogadas, como: métodos de pesquisa, interesses pessoais de cada pesquisador, leituras teóricas realizadas. Cabe lembrar que os vídeos curtos são realizados para chamar outros públicos e despertar o interesse geral. Cabe lembrar que o Canal conta com uma campanha de financiamento coletivo do Apoia-se: https://apoia.se/pesquisahumanas.

O que um professor com histórico vasto de autor de prosa como Godofredo de Oliveira Neto, seu mais recente convidado, traz de mais original para a cena acadêmica do país?

Conheci o professor Godofredo de Oliveira Neto na Academia Carioca de Letras. Isso foi por volta de junho de 2019. Por lá, trocamos algumas ideias acerca da futura supervisão de um projeto de pós-doutorado. Ele foi bastante atencioso e prestativo, pois tínhamos interesses em comum: o tratamento teórico do Novo Romance Histórico no Brasil. Na atual cena, noto que Godofredo possui forte preocupação de mesclar elementos reais e históricos na sua produção romanesca. Ao ler alguns dos seus romances (boa parte autografado), noto referências ao universo real: nomes de cidades, ruas, avenidas, Instituições, artefatos tecnológicos atuais, dentre outros. A título de exemplo, os romances "O Bruxo do Contestado" e "Amores Exilados" tratam de temas sensíveis, sociais e reais. Falam da Guerra do Contestado e da ditadura militar brasileira, movimentos históricos que deixaram um grande rastro de sangue e destruição. A crítica acadêmica insiste que a obra de Godofredo possui uma comunicação rápida, dinâmica e cinematográfica. Eu também noto muito isso! Creio que isso corrobora para pensarmos a rapidez das ações nas grandes cidades que são representadas nos romances dele: Rio de Janeiro, Salvador, Florianópolis, Veneza.

O que é a proposta de letramento literário que você traz para o debate em seu site oficial?

O conceito de Letramento Literário é desenvolvido pelo autor Rildo Cosson. Ele é um especialista sobre o assunto. Vários pesquisadores brasileiros se debruçam sobre as formulações de Cosson. Meu curso sobre o tema é 100% online. São mais de 55 aulas gravadas, divididas em nove módulos. O curso intitulado "Seja Competente No Letramento Literário!" foi pensado para que o estudante possa aprender a ler os diferentes gêneros da literatura de forma satisfatória, interessada e competente. No decorrer dessa viagem, o aluno terá conhecimentos primordiais acerca das diferentes técnicas e estratégias de leitura existentes. Durante as aulas, com duração de 10 a 15 minutos, trago a minha bagagem como leitor contumaz há cerca de 30 anos.

Como você avalia a atual cena da pesquisa literária no país no ambiente acadêmico?

Observo com bons olhos o cenário acadêmico brasileiro. Boas produções acadêmicas são produzidas na Unicamp, USP, UFRJ, UFF e as universidades de Santa Catarina e do Paraná, dentre outras. Algumas delas possuem departamentos e linhas de pesquisa condizentes e atuais. O maior empecilho é a inserção dos pesquisadores nos grandes centros culturais e no próprio magistério, um desafio que deve ser uma constante a ser superada pelos órgãos oficiais de fomento à pesquisa. A minha atual pesquisa é sobre a recepção do público leitor acerca dos romances históricos publicados nas duas últimas décadas. Pretendo traçar um diagnóstico conceitual sobre as motivações pessoais acerca do gosto dos leitores contumazes desse gênero.