Sinal verde para a leitura
Bienal abarrotada faz vendas de livros crescerem, e editoras relatam recordes
A lotação da Bienal do Livro de São Paulo em seu primeiro fim de semana tem se desdobrado em mais que aperto pelos corredores. As editoras relatam um aumento notável nas vendas de livros, e algumas delas apontam números recordes.
A Companhia das Letras, casa de maior porte no país, diz que teve o maior dia de sua história em bienais, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, no sábado (7). É o mesmo que conta outra grande editora, a Sextante, que cresceu 50% em faturamento se comparado ao mesmo período da última edição.
"É uma alegria para a gente ver esse espaço lotado de jovens leitores, e isso mantém nossa esperança em transformar o país através da leitura", celebra a nova diretora de operações da Companhia, Mariana Zahar.
O outro maior grupo editorial do país, a Record, já tinha superado as vendas do primeiro final de semana da edição de 2022 faltando quase oito horas para acabar o domingo.
"Sempre se diz que o Brasil não é um país de leitores e a gente tem a cada Bienal comprovado que isso não é verdade", diz o diretor editorial Cassiano Elek Machado.
Também celebram resultados animadores casas como Rocco, HarperCollins e Cortez. A Intrínseca vendeu 82% mais neste sábado que no dia equivalente da Bienal anterior.
Os números impressionam, mas não exatamente chocam quem esteve no Distrito Anhembi neste primeiro final de semana calorento em São Paulo. A organização só vai contabilizar os visitantes ao final do evento, mas a sensação de congestionamento naquele pavilhão fechado era geral.
A estratégia da Bienal de mudar de endereço para o conforto dos visitantes não funcionou bem no primeiro sábado de evento, dia tradicionalmente mais cheio. O Distrito Anhembi foi tomado por uma sensação de forte lotação, com filas que ocupavam parte considerável dos corredores e fluxos de leitores circulando com malas de viagem - que usaram o chão como pausa para descanso.
Filas em caracol
O aumento de 15% do espaço, em comparação com o Expo Center Norte, onde se deu o evento há dois anos, foi pouco sentido. Os corredores, mesmo mais largos, foram dominados por filas em caracol de leitores para entrar nos estandes. Houve relato de confusões em filas, que eram tantas que se misturavam.
A professora Felipa de Fátima, que frequenta o evento há anos, sentiu dificuldade de se locomover. "É muito tumulto, é muita gente. Você não sabe onde começa e onde termina a fila para comprar os livros. Tem sido muito difícil ir ao banheiro também."
O estudante Marcelo, 17 anos, levou uma hora para comprar os livros que queria. "Entramos, escolhemos e agora estamos nessa segunda fila, que está dando uma volta no estande, para pagar", disse. Ele tinha a expectativa de encontrar bons preços no evento - o que não aconteceu, segundo ele.
Outra estratégia da Bienal para impedir filas foi a retirada online de senhas para os autógrafos de autores. Na prática, o cenário foi outro.
Às 15h, minutos antes de abrir a sessão de autógrafos da escritora americana Lynn Painter, uma fila de adolescentes atravessava a frente do espaço que a organização selecionou para o encontro. Os jovens apinhados bloquearam a entrada para o banheiro e o acesso às barracas de comida. Alguns fãs sentaram no chão, o que atrapalhou quem andava pela área.
A estudante Laura Mendes, 16, entrou na fila para autógrafos de Lynn Painter com 40 minutos de antecedência. "Houve uma pequena confusão, porque teve gente que achou que era a fila do banheiro. Tinha a fila dos autógrafos do Felipe Neto também, o que confundia ainda mais", afirma Lara.
Um cenário semelhante também foi visto na segunda sessão de autógrafos do youtuber e autor. Sentada no chão, a estudante de fisioterapia Manuela Cavalcante, de 20 anos, contou que chegou ao espaço com uma hora de antecedência. "Estou aqui pela minha irmã e pela minha prima. Elas tentaram a senha, mas não conseguiram", disse. "Eu cheguei e fiquei meio perdida. Já tinha gente esperando aqui fora", disse com uma edição do livro "Como Enfrentar o Ódio" em mãos.
Era difícil, no sábado e no domingo, encontrar regiões sem grupos sentados no chão. Muita gente recorreu ao piso para comer até pê-efes, porque as mesas e cadeiras se mostraram muito insuficientes. A Bienal continua até o próximo domingo (15)