Por Olga de Mello
Especial para o Correio da Manhã
Dezembro, o mês que começa de costas, está aí. Com ele vêm os múltiplos festejos de fim de ano, do amigo-oculto da firma à ceia com a família. Reuniões em que a camaradagem disputa espaço com a tensão. Na tentativa de assegurar momentos de alegria, acerta quem presenteia livros, buscando o título ideal para cada leitor. Algumas sugestões vão aqui.
Sonny Boy (Rocco, R$ 62), a autobiografia do ator Al Pacino é uma agradável surpresa, embora pouco fale do star system. Um dos maiores astros do cinema norte-americano, o nova-iorquino Alfredo James Pacino, cuja grande virada na carreira vem com sua interpretação do mafioso Michael Corleone em O poderoso chefão.
Sonny - nome pelo qual é conhecido o mais velho dos Corleone, interpretado por James Caan - era o apelido do menino Alfredo, criado no Bronx, cujo avô nasceu na cidade de Corleone, na Sicília. Apesar das coincidências, Pacino hesitou em aceitar o papel que repetiu em mais dois filmes.
As recordações do ator se misturam às experiências em família, à infância e à juventude, como se fosse uma conversa, sem grande apreço pela ordem cronológica, com lembranças saudosas dos amigos da vida anterior ao cinema, e discretos relatos sobre romances com diversas atrizes conhecidíssimas, entre elas Diane Keaton, Jill Clayburgh e Beverly D'Angelo.
Um animal selvagem (Intrínseca, R$ 71), do suíço Joël Dicker, segue a fórmula mais em voga entre os thrillers da atualidade: idas e voltas no tempo, revelações que desmontam certezas nutridas pelos personagens, e, quem sabe, uma conclusão surpreendente. Na introdução, sabemos que um assalto em grande joalheria em Genebra "deu o que falar". No entanto, até chegar ao assalto, o leitor se perde em uma trama que envolve dois casais vizinhos, moradores de um condomínio de classe média alta. A família perfeita de comercial de margarina é composta por um casal bonito e rico, que moram perto do policial casado com uma vendedora de loja, que adquiriram a casa mais barata do conjunto residencial, e levam a vida se desvencilhando de problemas financeiros. Com pitadas de mistério bem dosadas e alguma crítica social, um suspense razoável para abrir a temporada de férias.
O visconde de Bragelonne (Zahar, R$ 116), de Alexandre Dumas, traz mais aventuras de Athos, Porthos, Aramis e D'Artagnan, trinta anos depois da conclusão de Os três mosqueteiros - que teve a primeira continuação com Vinte anos depois. A edição caprichada da coleção Clássicos Zahar é comentada, mas não traz ilustrações e é apenas a primeira de três volumes que somam em torno de 2.500 páginas, publicados em capítulos diários, entre 1847 e 1850, no jornal Le Siècle. No primeiro livro, os mosqueteiros envelheceram e seguem percursos distintos, três deles ambicionando, no entanto, o crescimento em suas carreiras. D'Artagnan, agora capitão, quer virar marechal; Aramis, um bispo, está para ser nomeado cardeal, enquanto sonha com o papado; Porthos, que obteve o título de barão, pretende a promoção como duque. Athos é um fidalgo aposentado. Quem pretende mergulhar no episódio mais conhecido dessa série, do Homem da Máscara de Ferro, terá que aguardar. Só no terceiro livro surge o personagem, inspirado pela história real de Eustache Dager, um prisioneiro da Bastilha, que Dumas transformou no irmão gêmeo do rei Luís XIV. Não é o único filho renegado dessa saga. Raoul, o Visconde, é filho bastardo de Athos. Para alguns especialistas, o personagem retrataria o também romancista Alexandre Dumas Filho, que o pai demorou a reconhecer. Uma leitura de fôlego e saborosíssima.