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A vida dos outros

Por Olga de Mello

Especial para o Correio da Manhã

Quem diz que não gosta de indiscrições e curiosidades sobre os outros ou é autocentrado em demasia ou mentiroso. A vida alheia interessa a quase todos os leitores. Aparentemente, sempre existem segredos a serem descobertos de figuras históricas, mesmo as que já tiveram a vida um bocado revolvidas. Por isso "D. Pedro II - A história não contada" (Record, R$ 99,90), de Paulo Rezzuti, ganha nova edição revista e atualizada, tratando das traquinagens do segundo imperador, homem culto, educado para ser estadista, bastante sem graça e namorador - não um sátiro como o pai, mas colecionador de paixonites.

As amantes de Pedro, homem circunspecto em um sólido casamento de muito companheirismo com a imperatriz Teresa Cristina, zelavam pela mesma discrição que o amado. As cartas românticas eram trocadas com diversas mulheres da corte, a mais conhecida delas, a condessa de Barral, preceptora das princesas Isabel e Leopoldina. A biografia enfatiza mais a vida pessoal do imperador do que sua gestão política e jamais o torna um protagonista interessante. Órfão de mãe, deixado pelo pai ainda menino no Brasil, Pedro II afirmava que se pudesse, seria professor, considerando seu cargo um fardo difícil de carregar.

Quem gosta daquelas histórias sobre pessoas que "fazem a diferença" há de se comover com o empenho do irlandês Niall Harbinson, que administra uma organização para resgatar e cuidar de cães abandonados e/ou maltratados na Tailândia, onde vive. Em "Os cães que me salvaram" (Intrínseca, R$ 59,90), ele recorda sua carreira bem-sucedida em marketing e mídias digitais, quando sofria de dependência de drogas e álcool.

Inspirado por seu labrador Snoop, que havia adotado em um abrigo na Inglaterra, decidiu cuidar e procurar lares para cães em situação de rua. O livro é quase uma visita ao Instagram, com histórias comoventes sobre cachorros de todas as raças e idades encaminhados à organização Happy Doggo, que atende a 10 mil cães de rua.

No Brasil e em boa parte do mundo, Leone Ginzburg é uma nota na biografia da aclamada escritora Natalia Ginsburg, ou na de seu filho, o historiador Carlo, por sua vez pai da romancista Lisa. Em 1943, Leone, professor, escritor e editor que participava ativamente da resistência ao fascismo, foi morto sob tortura na prisão. Tinha 34 anos, três filhos pequenos e estava na mira da polícia política desde 1934, quando se recusou a jurar fidelidade ao regime fascista, como outros 13 professores de universidades estatais italianas.

Antes disso, já havia sido preso por contrabandear literatura antifascista pela fronteira suíça. Em 1940, já casado com Natalia, a família é exilada em uma aldeia do interior, um tempo que a escritora classificou como "A melhor época da nossa vida" (Mundaréu, R$ 78,90), título escolhido por Antonio Scurati para seu chamado autoclassificado romance documental.

O livro é de 2015, antes de Scurati receber o Strega, o maior prêmio literário da Itália, por "M, o filho do século", uma trilogia sobre Benito Mussolini e a sociedade italiana de então. Em "A melhor época", Scurati já exercita o entrelaçar de diversos personagens: além dos Ginzburg, seus avós, os Ferrieri e os Scurati, têm suas trajetórias contadas, ilustrando a dificuldade da sobrevivência sob a ditadura.