Ah, meu Brasil africano!

Seleção de artigos do sociólogo paulista Reginaldo Prandi lança um olhar sobre as transformações sociais em torno das religiões de matriz africana no país

Por

Breno Platais
A obra de Prandi traça um panorama crítico do papel das religiões de matriz africana na construção da identidade brasileira

Sociólogo, professor e escritor, o paulistano Reginadldo Prandi dedica-se há mais de cinco décadas ao estudo das religiões afro-brasileiras. Aos 78 anos, acumula mais de 30 livros publicados sobre literatura infantojuvenil, educação, metodologia de pesquisa e religião - tema pelo qual é mais conhecido. Em "Brasil Africano: Orixás, Sacerdotes, Seguidores", ele aborda deuses, rituais e as transformações sociais que acompanharam essas religiões ao longo do tempo.

"O livro analisa o candomblé e a umbanda, seus sacerdotes e seguidores, desvendando dinâmicas de poder, conduta e resistência. Explora o panteão e seus ritos, reflete sobre a intolerância religiosa e a incorporação da tradição dos orixás na sociedade e na cultura contemporânea", afirma Prandi. Desde os anos 1970, ele acompanha e interpreta essas manifestações do ponto de vista sociológico.

A obra traça "um panorama crítico e detalhado do papel dessas religiões na construção da identidade brasileira. É a história de uma tradição de origem africana decisiva para o país, mas frequentemente vilipendiada e perseguida. O candomblé é o foco principal do livro, embora alguns capítulos tratem também da umbanda", pontua o autor, que lança sua nova obra neste sábado (15), às 11h, na Livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor, 37 - Centro),  em conjunto com o colega italiano Bruno Barba e seu "Meu Caso de Amor com o Brasil". 

Prandi lembra que os estudos sociológicos sobre religião se expandiram com a popularização dos cursos de pós-graduação. Quando iniciou a carreira, em 1971, havia apenas três programas de pós em sociologia no Brasil, todos incipientes. Hoje são mais de 50. "As religiões afro-brasileiras, além de se voltarem ao indivíduo, seguem como um exuberante celeiro cultural. São capazes de fornecer ingredientes materiais e simbólicos para o amálgama que preenche muitas fissuras culturais e dá forma e sentido à identidade brasileira", diz.

Os textos desta obra foram selecionados pelo sociólogo, professor e escritor João Luiz Carneiro. "Orixás, voduns, inquices, caboclos, pretos velhos, pombagiras e exus, entre outras entidades, povoam os capítulos e revelam diferentes faces da sociedade brasileira, mostrando, por trás das religiões, uma África viva e constitutiva do Brasil", observa Carneiro. Como pano de fundo, estão as mudanças sociais pelas quais o país passou nesse meio século, refletidas também nas religiões estudadas.