Aurélio, a ascensão e queda de um best-seller

Entenda como a obra organizada por Aurélio Buarque de Holanda se tornou sinônimo de dicionário nos 50 anos desde a publicação

Por Sérgio Rodrigues (Folhapress)

O lexicógrafo, professor, tradutor, ensaísta e crítico literário Aurélio Buarque de Holnda folheia, nos anos 1980, seu dicionário em imagem de divulgação do lançamento de uma a edição de sua maior obra


O Aurélio, que está completando meio século, não só virou sinônimo brasileiro de dicionário como carrega o orgulho de ter, nas suas variadas edições, vendido nada menos de 15 milhões de exemplares até o fim do contrato com a editora Nova Fronteira, em 2003. De modo geral, só a Bíblia atinge patamares assim.

No período desde então, porém - quase metade da sua vida -, o jogo mudou por completo. O parabéns-pra-você entoado na festa dos 50 anos soa meio desenxabido diante da constatação de que os dias de glória passaram. Não é que o Aurélio, lexicográfica e editorialmente desafiado em 2001 pelo Houaiss, tenha perdido espaço. Todos perderam. O mundo é outro.

Aquele mundo em que começaram a circular os 18 mil exemplares da tiragem inicial do "Novo Dicionário da Língua Portuguesa", do lexicógrafo alagoano Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, aguardava ansiosamente sua chegada. Notas periódicas na imprensa vinham atiçando expectativas pelo tijolo de 1.536 páginas e 120 mil verbetes. Era março de 1975, início do ano letivo.

A festa de lançamento, na livraria ipanemense Cobra Norato, de Carlos Lacerda (também dono da Nova Fronteira), ficou para quatro meses depois, mas confirmou que o novo dicionário nascia popular. Aurélio era bem relacionado e seus amigos estavam todos lá - inclusive os mais avessos a eventos sociais, como o poeta Carlos Drummond de Andrade. O sucesso do livro foi imediato.

Até o fim do século, o dicionário não pararia mais de vender. A relativa simplicidade de suas definições e abonações literárias - colhidas mais de autores brasileiros recentes do que de velhos clássicos - contribuiu para que ele caísse no gosto do público, que nunca deu ouvidos aos rumores eventuais de falta de rigor lexicográfico que circulavam nos meios especializados.