No Brasil, a crônica esportiva conquistou um espaço único seja na literatura seja no jornalismo. Mais do que narrar partidas, o gênero consagrou o futebol como em espetáculo imortal, explorando suas histórias, personagens e emoções. Atravessou gerações, ocupando páginas de jornais, programas de rádio e televisão, e hoje, em tempos de redes sociais, não perdeu o fôlego. Essa rica tradição é objeto da coleção "Crônicas Eternas do Futebol", que será lançada nesta segunda-feira (8) em evento na Galeteria Sat's, em Botafogo. A proposta do projeto é contar a história do esporte por meio dos grandes mestres que ajudaram a construir a mitologia do futebol brasileiro, destacando seus craques, clubes e seleções inesquecíveis.
A iniciativa reúne nomes fundamentais da crônica esportiva, desde os pioneiros até seus sucessores. Entre eles estão Mário Filho, João Saldanha, Armando Nogueira, Tostão, Juca Kfouri, José Trajano, Ruy Carlos Ostermann, Mauro Beting, Marcos de Castro, Alberto Helena Jr., Marcelo Barreto e João Máximo. São autores que marcaram gerações e influenciaram novos escritores e leitores. Só causa estranheza a ausência do genial e Nelson Rodrigues nesta escalação.
Bem ao estilo boleiro, o lançamento oficial da coleção terá a mesa-redonda "A crônica esportiva como gênero literário", evento com a presença de Juca Kfouri, Geraldo Mainenti (curador da coleção), Martha Esteves (presidente da Acerj – Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro), Sérgio Pugliese (Museu da Pelada) e Lúcio de Castro. E porque estamos em terra de samba e futebol (e vice-versa), após o debate, haverá uma roda com Luiz Felipe de Lima e grupo, trazendo canções ligadas ao bom e velho esporte bretão.
"Crônicas Eternas do Futebol" funciona no modelo de assinatura. Todo mês, os leitores receberão em casa uma antologia com crônicas selecionadas de um autor. As assinaturas estão disponíveis no site www.cronicasdofutebol.com.
Com a bela ilsutração de Lula Palomanes na capa, o primeiro volume é dedicado a Mário Filho, considerado o patrono do gênero. Irmão de Nelson Rodrigues, foi um dos principais responsáveis por consolidar a crônica esportiva no Brasil. Fundou o jornal "O Mundo Esportivo", escreveu sobre o futebol com um olhar literário e narrativo inovador e eternizou a rivalidade entre Flamengo e Fluminense no livro "O Negro no Futebol Brasileiro".
E mais: seu nome batiza oficialmente o Maracanã, um dos estádios mais icônicos do mundo. "No futebol, não há governo nem oposição, embora quando em quando pareça que há", escrevia o mestre numa de suas crônicas na Manchete Esportiva em 1º de junho de 1957.
Mais do que apenas relatar partidas, a crônica esportiva foi capaz de dar ao futebol um significado maior, conectando o jogo à memória e à identidade nacional. Surgiu na imprensa carioca da Belle Époque e encontrou no esporte um campo fértil para narrar a trajetória de ídolos que se transformaram em lendas. Se o Brasil é o país do futebol, a crônica permitiu que esse universo ganhasse contornos épicos, ampliando sua importância cultural.