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Mistérios à moda do Porto

Um corpo pendurado dos pilares da Ponte de D. Luís, no Porto, em Portugal, desafiando uma cidade em transformação, cosmopolita e repleta de turistas. O cadáver de uma mulher abandonado nas colinas do Vale do Douro - e a evocação de uma série de crimes no submundo da noite da segunda maior cidade portuguesa.

O que parecem ser dois casos isolados acabam por revelar ligações e caberá ao inspetor Jaime Ramos, o célebre personagem criado pelo escritor Francisco José Viegas há quase 30 anos, desvendá-las.

Vencedor dos prêmios Fernando Namora 2020 e o Pen Clube Narrativa 2020, "A Luz de Pequim" é, nas palavras do autor, "um romance de avaliação de experiências passadas e incertezas atuais".

A nova obra de ficção de José Viegas chega ao Brasil pela Gryphus Editora e foi lançada no último fim de semana durante a Bienal do Livro de São Paulo, que homenageou Portugal nesta edição. O autor, inclusive, integrou a comitiva de 23 escritores portugueses ao lado de colegas de ofício como Valter Hugo Mãe, Matilde Campilho, Gonçalo M. Tavares, Joana Bértholo e José Luís Peixoto.

Francisco José Viegas conta que oferece aos leitores um romance policial fora dos padrões, apresentando uma narrativa introspectiva e por vezes sombria, em que descreve a sociedade portuguesa de forma crua e sem floreados. Aos 60 anos, Jaime Ramos se tornou um inspetor veterano da Polícia Judiciária da zona do Porto e se depara com a passagem do tempo e a efemeridade da vida.

"Eu não trabalho em homicídios para mudar o mundo nem para fazer do mundo um lugar melhor. É mais para castigar os criminosos e cumprir uma função. Crime e castigo. Punição. Vingança. Faço biografias de vítimas, de desaparecidos e de assassinos. É o nosso trabalho, o trabalho dos derrotados. Se quisesse um sítio melhor ia procurá-lo por aí fora", reflete a certa altura do texto o detetive num misto de sensações entre a resignação, o desencanto e o mero senso de dever.

O Ramos criado por Viegas é um herói "à antiga", homem de grande profundidade psicológica, econômico nas palavras e sempre com o semblante fechado. O passado do detetive e o modus operandi com que solucionou casos anteriores são postos à prova, o que o levará a revisitar toda a sua história - as suas investigações numa viagem interior marcada pela nostalgia de um homem desiludido com o mundo. O protagonista se interroga sobre o sentido de ser português nos dias de hoje.

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