Vozes que curam

Áurea Martins leva as canções de seu belíssimo 'Senhora das Folhas' ao palco do Rival

Por Affonso Nunes

Áurea Martins canta o saber popular das rezadeiras, curandeiras e parteiras em 'Senhora das Folhas'

Veterana das casas de shows cariocas, Áurea Martins construiu sólida reputação na noite. Mas é uma artista que, aos 83 anos, segue se reinventando. Que o diga seu mais recente trabalho fonográfico, o aclamado "Senhora das Folhas", álbum indicado ao Grammy latino 2022. A cantora é a atração desta véspera de feriado, às 19h30, no palco do Teatro Rival.

Lançado pela Biscoito Fino e Natura Musical, o álbum é uma celebração ao poder feminino que cura e traz vida. Áurea canta os saberes das benzedeiras, curandeiras e parteiras, mulheres portadores de uma tradição arraigada no afeto do povo brasileiro. O álbum é, portanto, um delicado mergulho no universo do sagrado feminino em repertório que vai de canção medieval ao coco de roda, passando por canto indígena e sambas icônicos.

No palco, Áurea entoa louvores das manifestações populares de Minas Gerais que unem-se a canções contemporâneas como "A Rezadeira" (Projota) e "Me Curar de Mim" (Flaira Ferro), a um belíssimo canto indígena Parakanã e a sambas icônicos como "Banho de manjericão" (Paulo Pinheiro e João Nogueira) e "Na paz de Deus" (Arlindo Cruz).

Unindo os vários Brasis e as duas pontas da vida, Áurea visita neste show sua ancestralidade e ganha o terreno do qual é rainha por herança e direito: o solo fértil das miscigenações afro-índigenas, caboclo-encantadas, orixás-pajé, recebendo de braços abertos o novo. Para ser universal, Áurea fala da sua aldeia.

Tudo em arranjos camerísticos luxuosos, compondo um show potente e emocionante que tece, como num bordado, o diálogo entre os imaginários urbano e rural do país.

Ela sobe ao palco acompanhada de alguns dos mais representativos músicos contemporâneos como Lui Coimbra (violoncelo, violões, rabeca e charango andino), responsável pela direção musical do espetáculo; Fred Ferreira (violas e guitarras); Marcos Suzano (pandeiro e percussões) e Pedro Aune (contrabaixo acústico e tuba). E nos vocais: André Gabeh.

Trata-se de um espetáculo pleno em emoção seja pela qualidade do repertório seja pela qualidade dos músicos mas, sobretudo, pela elegância de uma diva no palco com sua voz límpida e que tanto tem a nos dizer.

SERVIÇO

ÁUREA MARTINS - SENHORA DAS FOLHAS

Teatro Rival (Rua Álvaro Alvim, 33 - Cinelândia)

6/9, às 19h30

Ingressos entre R$ 50 e R$ 120