Cada vez mais avesso a shows, Edu Lobo vai se ausentar momentaneamente de sua casa em São Conrado nesta quarta-feira, a partir das 19h, para apresentar em um de seus palcos prediletos, a Sala Cecília Meireles, as novas versões de grandes canções de sua lavra que constam de "Oitenta", portentoso álbum duplo que chegou nesta terça-feira às plataforma digitais pelas mãos da Biscoito Fino.
No palco, Edu terá a companhia de Mônica Salmaso, Ayrton Montarroyos e Vanessa Moreno (Voz)
Cristóvão Bastos (piano, arranjos, direção musical), Jorge Helder (contrabaixo), Jurim Moreira (bateria), Kiko Horta (acordeon) , Paulo Aragão (violão 8 cordas), Carlos Malta (sopros), Mauro Senise (sopros) e Marcelo Costa (percussão).
Quando Edu Lobo fez 70 anos, dez anos atrás, realizou-se no Teatro Municipal um espetáculo que buscava - como se fosse preciso - ressaltar a excelência de sua obra. Lá, com orquestra de cordas e as participações nobres de Maria Bethânia, Chico Buarque, Mônica Salmaso e de seu filho Bernardo Lobo, de "Chegança" (1964) a então novíssima "Coração cigano" (Edu Lobo/Paulo César Pinheiro) passou-se em revista no principal palco do país e de forma cronológica os seus incontáveis clássicos fornecidos ao cancioneiro brasileiro.
O espetáculo virou CD e DVD, canções clássicas registradas como nunca, confirmando sua excelência autoral, como se isso fosse preciso.
Pois "Oitenta" - e, como mais ou menos escreveu Edu no encarte do disco, ver seu nome ao lado do número 80 prescindiria de qualquer comentário, oitenta é idade que prova que tudo foi e é possível, é idade de garoto (enquanto 70 é idade séria, madura) - o novo álbum duplo e novamente comemorativo vai numa ideia digamos oposta. Não, calma: não que não haja excelência pois isso seria impossível em relação à música de Edu. Nem que não haja clássicos no repertório - "Beatriz" (Edu Lobo/Chico Buarque), por exemplo, reaparece, magnífica, interpretada pelo compositor e pela voz mais bonita da atualidade, Mônica Salmaso, com o mesmo piano de Cristóvão Bastos que emoldurou a gravação original pela voz mais bonita daquele momento, 1983, Milton Nascimento.
Mas o que artista busca agora em "Oitenta" é ressaltar a ousadia e a abrangência estética dessa obra, talvez a mais importante da música brasileira contemporânea. E se nos anos 70, o show virou disco, agora este álbum duplo será a base do show comemorativo dos seus oitenta anos, nesta quarta no Rio e sexta em São Paulo.
Para o álbum, e para dar conta dessa abrangência estética, Edu escolheu a dedo outras 23 canções, além do clássico "Beatriz", que talvez não tenham tocado tanto no rádio, não tenham sido tão regravadas ou comentadas por aí, os tais lados B, canções que muitas vezes ficaram esquecidas no meio dos discos - e que são lindas, fortes, como os clássicos. Esse foi o critério.
E aí, a título de bom exemplo, reaparece a balada "Branca Dias", feita para uma peça de teatro, a épica "Canudos" e a igualmente nordestina "Gingado dobrado" - todas em parceria com o poeta Cacaso e lançadas no álbum "Camaleão" (1978) - que nunca fizeram o sucesso de "Lero Lero", do mesmo disco e da mesma parceria, por isso estão aqui. E que indicam um dos muitos caminhos estéticos da obra de Edu, uma visão própria do vasto universo da música nordestina - não fosse ele, embora carioca, filho de pernambucanos e que, em sua formação, viveu estadias de três meses por ano no Recife. Não por acaso o tema "Casa Forte", mesmo sem letra abre este disco remontando explicitamente essa vivência pernambucana.