No ano de 2018 os integrantes do Ira!, banda paulistana que tomara o Brasil de assalto com hits como "Dias de Luta", "Envelheço na Cidade" e "Flores em Você" realizou uma memorável turnê pelo país relembrando as canções de seu trabalho mais conceitual, o álbum "Psicoacústica" que completava 30 anos na ocasião. Cinco anos depois, Nasi, Edgard Scandurra & Cia retomam esse espetáculo épico em turnê igualmente badalada. A próxima parada é o Circo Voador nesta sexta-feira (24). O jornalista e DJ Silvio Essuinger abre os trabalhos nas carrapetas e aproveita para lançar seu romance "Mantovânia".
Atualmente formado por Nasi (voz), Edgard Scandurra (guitarra), Johnny Boy (baixo) e Evaristo Pádua (bateria), o Ira! resgata o repertório de um álbum que, mesmo não sendo o maior sucesso de vendas da banda, é objeto de adoração dos fãs da banda desde seu lançamento em 1988.
Após o sucesso comercial de "Vivendo e Não Aprendendo" (1986), seu segundo álbum, que apresentou músicas que nunca mais deixariam o repertório da banda "Flores em Você" - chegou a virar tema de abertura de novela global -, o Ira! não se acomodou e concebeu o conceitual "Psicoacústica", um trabalho nem tão bem recebido na ocasião, mas que se tornaria cultuado nas décadas seguintes a ponto de ser incluído na relação dos 100 maiores discos da música brasileira em lista elaborada pela revista Rolling Stone em 2007.
A tampa do disco de capa psicodélica se abre com o sampler da frase "Trata-se de um faroeste sobre o terceiro mundo", pinçada de um cult cinematográfico, o longa "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), do cineasta Rogério Sganzerla. É a abertura de "Rubro Zorro", cuja letra faz citações ao filme.
Samplers e scratches fizeram parte do álbum, antecipando um recurso hohe comum nos palcos. Nas apresentações ao vivo da banda naquela época era comum ver o vocalista Nasi pilotando as picapes.
As incertezas da juventude, uma temática cara às canções do Ira" desde seu primeiro álbum se fazem presentes em faixas como "Manhãs de Domingo". "Poder, Sorriso e Fama" é um relato sobre a repentina fama que os músicos adquiriram de forma tão rápida.
"Receita Para Se Fazer um Herói" traz consigo uma história curiosa que poderia, inclusive, arruinar a carreira da banda. "Um amigo meu do quartel me deu essa letra, oferecendo pra eu fazer uma música. Aí eu fiz um reggae para 'Receita Para Fazer um Herói' e entrou no disco. Eu quis ser super honesto com o cara, dizendo que quem escreveu essa música tinha sido um amigo meu, o Esteves. Tempos depois saiu uma carta na Revista Bizz de uma fã indignada, perguntando como que o Ira! pegou a música do grande compositor, poeta angolano Reinaldo Ferreira. Aí a gente descobriu que a letra era desse cara importante e não tinha nada a ver com o Esteves", contou Scandurra em entrevista concedida em 2018 ao jornal gaúcho Zero Hora. Felizmente a banda conseguiu a autorização da família do poeta, que não fez questão de pedir nem mesmo direitos autorais da letra.
"Pegue Essa Arma" abre encarna a pegada mais rock and roll do disco e logo é seguida pela confessional "Farto do Rock 'n Roll", cantada por Edgard Scandurra e que escancara o desejo da banda de buscar "outros sons, outras batidas, outras pulsações", algo que já se podia ouvir em "Advogado do Diabo", um misto de rock, rap e maracatu, que chegou a ser incorporada pouco depois ao repertório de Chico Science e a Nação Zumbi em suas apresentações ao vivo. "Mesmo Distante", em formato acústico, fecha o álbum sugerindo reflexões com versos como "Se você não se lembra / Então feche os olhos e sinta / Onde quer que esteja / O tempo vai voltar".
No setlist devem fazer parte hits da carreira como as já citadas "Flores em Você" e "Dias de Luta", além de "Eu Quero Sempre Mais", "O Girassol", "Tolices", "Tarde Vazia" e "15 Anos", dentre outras.
SERVIÇO
IRA! - PSICOACÚSTICA 35 ANOS
Circo Voador (Rua dos Arcos s/nº - Lapa)
24/11, a partir das 22h
Ingressos entre R$ 80 e R$ 180