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Um caderno de belezas

Em 'Casa De Mutinho', o compositor traz seu olhar sobre a infância e as participações deZeca Baleiro, Fernanda Takai, Hélio Ziskind, Wandi Doratiotto e e Toquinho, entre outros convidados | Foto: Marília Scarabello/Divulgação

"O Caderno", a música mais conhecida de Mutinho, em parceria com Toquinho, é pela primeira vez gravada pelo autor. Simboliza a trajetória do compositor, se aventurando pela segunda vez, aos 82 anos, como protagonista em um disco e que lança um apelo para as futuras gerações: "só peço a você um favor, se puder: não me esqueça num canto qualquer".

Junto com "O Caderno", canções inéditas ganham luz, clássicos se reinventam, e parcerias tomam forma em participações que oxigenam e são oxigenadas pela sensibilidade da obra de Mutinho, sobrinho de Lupicínio Rodrigues.

Lançamento da produtora e gravadora Kuarup nas plataformas digitais e em edição física em CD, "Casa de Mutinho" é um belo retrato do artista, que segue compondo cotidianamente: é fiel à sua personalidade musical, mas aponta para a frente. Está no presente, sem se distrair com o modismo. Dialoga com o passado, sem tropeçar no saudosismo.

O álbum tem especial apelo no repertório, que tem como espinha dorsal um tipo específico de olhar maduro e poético de Mutinho sobre a infância. Embora não se pretenda "infantil", muitos desses olhares, reunidos no álbum, são facilmente reconhecidos pelas crianças, que repetem em sucessivas gerações as melodias de Mutinho. "Nuvem", "Bosque", "Bicicleta", "Bola", "Amarelinha" e "Esse Menino" são palavras do repertório que montam rapidamente no imaginário uma imagem qualquer de "casa".

"É uma felicidade poder comemorar, junto ao lançamento deste álbum, os 40 anos de Casa de Brinquedos",comenta Mutinho, refereindo-se ao projeto consagrado de sua parceria com Toquinho, que contém verdadeiras joias do cancioneiro.

Algumas delas agora poderão ser ouvidas nas vozes de Zeca Baleiro ("A Bicicleta"), Mundo Aflora ("A Bola"), Leopoldina ("A Bailarina") e Wandi Doratiotto ("O Macaquinho de Pilha"), além das participações especiais de Fernanda Takai, Hélio Ziskind, Lucy Brand, Toquinho e Bruno De La Rosa, músico que fez os arranjos e assina, com Wagner Amorosino, a produção do álbum.

"A Casa de Mutinho" é mesmo a casa dele: acolhedora, hospitaleira, carinhosa. Desde a primeira faixa, uma vinheta extraída de uma entrevista que ele concedeu, em 1975, ao jornalista Aramis Millarch, até a última, onde "os quatro mosqueteiros musicais" cantam no quintal de A nossa casa, o clima do disco é de acolhimento, de reminiscências boas, de sentimentos variados, mas sempre fortes, na citação de brincadeiras e brinquedos, no amor realizado, na amizade e no carinho da família.

O afeto familiar está presente nas canções e na vida real, como em "Mar de Isabel", feita por Mutinho e seu filho, Márcio Mutalupi, com letra de Bruno De La Rosa, dedicada à sua filha. O mesmo acontece em "Ao Que Vai Chegar", parceria de Mutinho e Toquinho, dedicada a Pedro - primeiro filho de Toquinho -, e em "Canção Pra Jade", gravada por Fernanda Takai, dedicada à segunda filha de Toquinho.

E os jogos e as canções das crianças continuam no amálgama de emoções que nos trazem "Jogo da Amarelinha", cantada em português e em inglês por Mutinho e Lucy Brant, com letra de Carlos Chagas; em "Esse Menino", parceria com Toquinho, na voz marcante de Hélio Ziskind; e em "Modinha", nos versos de Luiz Carlos Seixas: "Se essa rua fosse só minha / quem sabe a tua casa seria, da minha casa, vizinha".

A natureza em torno da casa também se faz presente, nas canções "A Nuvem" e "Eu Sou Esse Bosque", esta última um verdadeiro auto-retrato de Mutinho, iniciada com uma fala de Vinicius de Moraes também captada pelo jornalista Aramis Millarch. A "Casa de Mutinho" está aqui, "com a porta sempre aberta, igualzinho ao coração".

 

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