Resistir à intolerância

Com músicas compostas entre 2018 e 2022 e um texto em exaltação à miscigenada cultura brasileira, Cláudio Frêp lança "Manifesto Caboclo", uma memória da pele contra o preconceito e a intolerância. Em texto manifesto, o cantor e compositor ressignifica o termo caboclo, dando a ele um sentido mais amplo de mistura, partindo do princípio de que culturalmente todo brasileiro é caboclo.

Nos tempos de pós-verdade em que somos tragados por realidades paralelas através das redes sociais em um ritmo frenético, Frêp aposta no poder da arte como instrumento de transformação social e defende sua importância como plataforma para amplificar as vozes de minorias e grupos à margem da sociedade.

Com seis faixas, "Manifesto Caboclo" faz, de forma alegórica, referência ao conservadorismo exacerbado, que captura vidas, criando bolhas sociais fechadas ao diálogo, como podemos conferir na valsa "Flor do Sonhar". O samba "Flor de Jambeiro" tem como mote o movimento feminista e a luta identitária de gênero. Já o sentimento de medo e angústia vivenciado durante o confinamento provocado pela Covid-19 aparece na faixa "Promessa Alegre".

Inspirada na obra "Vigiar e Punir", de Michel Foucault, a balada "Amor Perfeito" faz crítica aos "isentões" que se deixam ser usados como corpos dóceis e úteis para a manutenção de sistemas sociais nos quais ao essencial da vida não é dado o devido valor. A importância da arte e da cultura no desenvolvimento humano e no combate à violência originária de preconceitos socialmente estruturados é enfatizada na opereta pop "Encruzilhada", que encabeça o manifesto, e no bem-humorado samba "Folhinha de Couve".

O disco tem arranjos e direção musical assinados por André Muato, que faz uso de pinceladas eletrônicas, em um bom casamento entre tradição e contemporaneidade.

"Embora algumas das composições tenham sido feitas no período sombrio da pandemia, 'Manifesto Caboclo' é um chamado à vida e à resistência, onde o lamento e a altivez, o jocoso e o cinismo se irmanam para celebrar a alma brasileira em sua singular pluralidade", acrescenta Frêp.