Na ancestralidade do forró

Pé de Manacá lança 'Pra Raiar', seu álbum de estreia, com canções autorais ponteadas pelo som da rabeca

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Formado por mulheres, o Pé de Manacá explora a sonoridade da rabeca para apresentar ao público as raízes mais remotas do forró num tempo anterior à utilização do acordeon

O grupo Pé de Manacá faz de seu álbum de estreia, "Pra Raiar", uma imersão na riqueza do forró de rabeca. O projeto, formado exclusivamente por mulheres, faz um mergulho potente e plural sobre a cultura brasileira, suas riquezas e potencialidades. Fruto de muita pesquisa e amadurecimento, o disco está disponível nas principais plataformas de streaming de música.

"O álbum expressa nosso descobrimento enquanto musicistas, artistas, compositoras e pesquisadoras e também reflete o desejo da construção de parcerias, base para a nossa existência enquanto grupo e para a maneira como enxergamos a musicalidade brasileira", reflete Maria Carolina, que toca rabeca e canta. Além dela, a banda é formada por Alice Vaz (zabumba e voz), Beatriz Da Matta (percussão e voz) e Sofia Baroukh (violão e voz).

Elas se inspiram nas matrizes tradicionais do forró, contextos onde a rabeca como solista precedeu o papel da sanfona. O trabalho mostra a profundidade da pesquisa realizada para a criação de um registro que respeite a tradição que foi carregada por muitas mulheres, algumas delas que as artistas fizeram questão de trazer para o seu álbum. Essa ponte de gerações e estilos dá o tom de "Pra Raiar".

Em seis das dez faixas do álbum, as vozes e toques de mestras e outras musicistas respeitadas como Anastácia, Ana Maria Carvalho, Neide Nazaré, Ana Flor de Carvalho, Thais Ribeiro e Wanessa Dourado se juntam ao Pé de Manacá, formando uma verdadeira sinfonia brasileira.

"Para essa fase de concretização do álbum decidimos convidar para gravar conosco seis mulheres, artistas que consideramos nossas parceiras e também algumas das nossas maiores referências e mestras do forró e outras culturas tradicionais brasileiras. Também convidamos Aline Falcão, musicista e arranjadora, que já admirávamos e acompanhávamos o trabalho há algum tempo, para assumir a frente enquanto diretora e produtora musical. Ao lado de Aline, criamos um cotidiano de trocas e construções coletivas em ensaios que levaram a rearmonizações de algumas músicas, rearranjos completos de outras, e criações de novas introduções e interlúdios musicais. Assim, as composições que antes passeavam no nosso repertório livremente criaram um corpo mais consolidado, uma interpretação mais firme e um sentido enquanto um álbum único", completa Alice Vaz.

Cada faixa do álbum "Pra Raiar" carrega consigo uma narrativa única, desde a evocação de memórias e reza na faixa-título até a celebração da festa e da tradição na última música, "Pra Ver o Folguedo Passar". Todo o contexto do quarteto e suas convidadas especiais dão vida a um rico panorama sonoro. Cada canção do álbum é uma janela para um aspecto distinto da cultura, desde as influências dos cocos de roda e tradições afro-brasileiras em "Cor do Mar" até a magia das brincadeiras e tradições vivas no vibrante "Pé de Pulo".

O título do álbum reflete a essência da obra, tomando como base a faixa homônima que simboliza a história de uma semente que germina, cresce e se ramifica. O nome "Pra Raiar" é uma homenagem às mulheres mais velhas que abriram caminhos para as gerações futuras, proporcionando uma oportunidade para as jovens artistas do grupo Pé de Manacá germinarem suas próprias sementes artísticas.

Além disso, o grupo obteve apoio do Programa de Ação Cultural (ProAc) do governo estadual de São Paulo, um importante incentivo para as artes e a cultura no estado. O lançamento de "Pra Raiar" é uma homenagem à tradição e um tributo às mulheres que abriram o caminho para a próxima geração de artistas.