Por: Affonso Nunes

Bala com gosto de adeus (ou até breve?)

Formado por Júlia Mestre, Dora Morelembaum, Lucas Nunes e Zé Ibarra, o Bala Desejo surgiu como um projeto paralelo nas carreiras dos quatro músicos | Foto: Divulgação

Uma das mais gratas novidades musicais dos últimos anos, a banda Bala Desejo decidiu encerrar as atividades dois anos após a sua criação. Os membros do grupo vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum Pop em Língua Portuguesa do ano passado, com o álbum "Sim Sim Sim", divulgaram no fim da última semana comunicado informando que em 2024 será celebrada uma última turnê do grupo.

A série de shows começa em fevereiro e já tem apresentações marcadas para Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Rio. A venda de ingressos já está aberta.

De acordo com os integrantes, a razão do fim da banda é para permitir que os membros voltem a se dedicar a suas carreiras individuais. O grupo, formado por Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra, também declara que o projeto já era visto como algo breve.

"Lá no início, imaginamos o Bala [Desejo] como um projeto pontual, um arco com fim já planejado", escreve a banda no anúncio. "Quem já veio no show sabe que o Bala Desejo vibra quando se trata de fazer música ao vivo. é no show que tudo acontece. É a família Bala Desejo e nossa banda natureza divina juntos nessa emocionante celebração de encerramento", prossegue o comunicado.

Os quatro jovens cantautores protagonizaram um dos projetos mais interessantes da MPB nos últimos anos com um repertório que mescla o trabalho autoral de seus integrantes e adiciona deliciosas releituras de colegas de geração como Ana Frango Elétrico, Rubel e Tim Bernardes.

A força criativa de Dora, Julia, Lucas e Zé nasceu em 2020, em plena pandemia, como um projeto paralelo em suas carreiras, mas rendeu dezenas de shows e participações em festivais no Brasil e no exterior. Com um jeitão setentista, o grupo se joga no palco com energia contagiante numa deliciosa mistura de samba, soul, frevo, reggae e pop, bebendo da melhor tradição tropicalista.

Comparações aos Doces Bárbaros - formado em 1976 por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia para celebrar 10 anos de suas carreiras - e á trupe musical-circense do longa "Bye Bye Brasil" (1979), de Cacá Diegues, foram inevitáveis.

Amigos desde a época da escola, os quatro tocavam suas carreiras próprias: Dora integrava o grupo vocal Zanzibar, Julia compunha músicas para seu trabalho solo, enquanto Zé e Lucas produziam o segundo álbum da banda Dônica, que integram com Tom Veloso, André Almeida e Rodrigo Parcias.

Os quatro, porém, começaram a chamar atenção após algumas participações nas lives temáticas no Instagram da cantora Teresa Cristina. O projeto nasceu, rendeu um álbum muito bem sucedido.

As referências tropicalistas são notórias, mas o Bala vai além. "Nossa musicalidade foi construída desde os tempos de escola. Estudamos juntos e crescemos ouvindo discos e compartilhando o que gostávamos. Cada um de nós é o que é hoje muito por conta dessa troca estabelecida desde então. A questão das referências setentistas vem menos por uma questão estética e mais por uma questão dessas entranhas musicais", disse Zé Ibarra, em entrevista recente ao portal PopLine. "Vivemos em 2022 e nosso álbum, nossas letras e o debate que tentamos abordar no disco é do agora, só nos utilizamos de uma linguagem que amamos e da qual fazemos parte: a MPB", arremata.

Os shows da turnê de despedida começam em 2 de fevereiro na Corina Cervejaria, em Brasília. De lá, o grupo toca no Obalalá Shiva, em Goiânia, no dia 3 de fevereiro; no Palácio das Artes de Belo Horizonte, no dia 23; na Audio, em São Paulo, no 24; no Opinião de Porto Alegre, em 8 de março; no Teatro Up Experience, no dia 9; e no Teatro Riachuelo, no Rio, em 13 de março.

Esperamos, no entanto, que essas apresentações sejam tão calorosas por parte do público que o Bala Desejo esteja apenas ensaiando um até breve, e não um adeus.

 

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