Letrux solta os bichos para cantar sentimentos humanos

Cantora e compositora leva canções de sua 'Mulher-Girafa' ao palco do Circo Voador

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Letrux: 'Os animais sempre estiveram presentes nas minhas composições, agora foi só a hora de organizar essa bicharada toda'

O trabalho mais recente da inventiva Letrux é uma leitura abrangente do reino animal. Em "Letrux como Mulher Girafa", a artista múltipla pensa sobre os bichos e vai além, apresentando novas formas para se entender o mundo em que vivemos e tantas vezes esquecemos que somos animais também. Seu show com o repertório do disco lançado em junho chega ao Circo Voador nesta sexta-feira (22), a partir das 22h, com a DJ Bruna Beber abrindo os trabalhos de uma noite que promete ser animalesca.

Por ter 1,85 metro de altura, Letrux tem uma girafa tatuada no corpo, o que de certa forma explica o nome do álbum, mas a artista vai além. "Eu sempre tive essa curiosidade com o reino animal, desde a época de colégio, e com documentários sobre a vida animal. Nunca achei que isso fosse menor do que um filme do Godard - isso é arte ou isso não é arte? Um documentário sobre insetos, para mim, era tão interessante quanto um filme do Truffaut", defende.

Desde a época em que tocava na banda Letuce, seu projeto com o músico Lucas Vasconcellos, até seu primeiro disco solo como Letrux, as letras de Letícia Novais - nome por trás da alcunha artística - se remetem ao tema: "Ballet da Centopeia", "Medo de Baleia", "Darwin's Fairy Tale" e "Além de Cavalos". "Os animais sempre estiveram presentes nas minhas composições, agora foi só a hora de organizar essa bicharada toda", observa.

Letrux atribui a inspiração de dedicar um álbum inteiro aos bichos à sua saída do Rio durante a pandemia. "Eu fui morar numa casa no mato. E foi a primeira vez que tive um animal doméstico, um gato. Entrava gambá na casa. Eu ia nadar na lagoa e passava um peixe gigante do meu lado."

A casa a que se refere, situada em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, é mostrada de forma íntima no mais recente filme do diretor Marcio Debellian, "Letrux - Viver é um Frenesi", que retrata a artista em seu período de isolamento. E chega também na sensação de perda, acentuada pela morte de uma irmão aos 19 anos.

Além de toda a tensão que a pandemia foi capaz de provocar, "Letrux como Mulher Girafa" traz ainda os reflexos das incertezas incutidas ao meio artístico pela última gestão do governo federal. Tempos em que o fazer cultura foi agredido de forma sistêmvia. Uma das faixas que Letrux considera representativa desse período é "Formiga". Além desta, Letrux canta "Zebra", "Louva Deusa", "Leões", "Hiena", "Abelha" e "Aranha".

Suave e tragicômico

O humor, ainda que irônico, é outra particularidade das músicas e da performance de Letrux. "Gosto desse equilíbrio muito suave que tem no tragicômico. Vou falar verdades profundas, mas por que não dar uma gargalhada enquanto se fala uma verdade profunda?", indaga. "Vou fazer uma música boba, mas, por que não, do nada, ter uma frase que corta o coração? Acho que sempre vou querer buscar isso nas minhas composições", continua.

Não à toa, o disco pode ser ouvido como se estivéssemos lendo uma fábula de Esopo, recheada por alegorias e brincadeiras com ditos populares, o que a própria artista confirma. "Minha cabeça funciona mais como escritora do que como cantora. Eu me utilizo da música junto com outros artifícios e acho que o maior que eu tenho é saber escrever. Quando eu faço um disco, eu procuro esse entendimento quase de um livro", explica.

SERVIÇO

LETRUX COMO MULHER GIRAFA

Circo Voador (Rua dos Arcos s/nº - Lapa)

22/12, às 22h

Ingressos entre R$ 70 (meia) e R$ 180