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Paulo-Roberto Andel: Boas lembranças movidas a sanduíches

Eu gosto muito de sanduíche. Qualquer sanduíche, dos mais abonados aos mais simples. Sou capaz de lembrar de grandes momentos enquanto comia um sanduíche. Certa vez passei o Ano Novo lanchando no Gordon, eu, Fredão e as garotas. Nunca me esqueço de um funcionário extremamente atencioso que se chamava Misaque, e o Flu tinha acabado de ser campeão.

Engraçado que nos acampamentos escoteiros nunca tinha sanduíche, no máximo pão com manteiga de manhã, isso quando não o fazíamos. Acho que na volta sempre me dava vontade de comer um sanduíche.

Basta um bom pão ou uma fatia de qualquer coisa e o sanduíche fica ótimo. Pode ser com pasta ou patê. Agora lembro de um que minha mãe fazia pra mim numa época em que estávamos muito pobres, muito pobres mesmo. Tadinha, ela comprava uma lata de sardinha, um tomate e uma cebola, picava tudo e fazia os recheios. Ela sofria muito, mas o sanduíche era tão gostoso que eu o como até hoje, mesmo lembrando daqueles tempos de enorme dificuldade.

Quando comecei a ir ao Maracanã, eu era pequenininho e não entendia o futebol, mas já era Fluminense e ficava muito contente quando meu pai comprava um cachorro quente pra mim. Minhas primeiras memórias tricolores são gente comemorando gol, a linda camisa tricolor e meu impecável cachorro quente Geneal.

Quinze anos depois, eu contava as moedas para sobreviver na faculdade. Nem sempre dava pra almoçar, aliás quase nunca dava. A saída então era um lanche barato: íamos para o terceiro andar, na cantina da faculdade de Física. O prato principal era pão com ovo e salada mais limonada. Era baratinho e delicioso. Eu gostava tanto que pensava o seguinte: se um dia ficasse rico, ia contratar a lanchonete só pra mim, numa casa para que eu pudesse lanchar enquanto descansasse.

Copacabana tinha a maravilhosa Sorveteria Bolonha, que tinha um cheeseburger sensacional e um mate delicioso, que rivalizava com o tanquinho da praia. Era uma lanchonete simples, barata e com ótimo atendimento. Aguentou ditadura, inflação, Nova República, novo golpe e o escambau, mas não resistiu à pandemia. Esquina de Constante Ramos com Barata Ribeiro.

Anos atrás, faleceu um botequim na galeria do saudoso Cine Veneza. O bar vendia sanduíche de frango assado. Havia uma pequena frangueira, picavam o frango para o recheio e também serviam em porções. Era enlouquecedor.

Em momentos de grandeza e miséria, na alegria e na depressão, em dias desesperadores e cheios de esperança, tanto faz, uma coisa é certa: um sanduíche sempre esteve perto de mim como se fosse o melhor amigo, matando minha fome, me dando satisfação. Hoje mesmo acho que vou fazer um.

É bom demais.

 

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