Por: Aldo Tavares*

MORA NA FILOSOFIA: Papo com Platão

Platão | Foto: Reprodução

Encontrar pessoas é encontrar palavras. Quando eu soube de que um grego secular estaria nos trópicos, marquei um encontro num lugar ideal para contemplar o Rio de Janeiro: Gragoatá, Niterói. O grego: Platão. Ficamos no quiosque 2 Irmãos. Entre um petisco e outro, perguntei a razão de estar no Brasil.

Platão - Vim expor sobre o fenômeno do vírus.

Mas o senhor é filósofo.

Platão - Na condição de filósofo, como penso o ser, pergunto: o que é o vírus? Não sou quem descobre a vacina contra o vírus. Uma vez pensado o ser, aí podemos entender o que pode a natureza viral. Não sei se você leu "Timeu", mas eu digo no livro que phýsis - em português, natureza - aparenta ser estável, mas é objeto errante, pois, ao darmos um nome a esse objeto, ele já é outra coisa, ou seja, sem deixar de ser ele mesmo, ele é outro. Eu amplio a compreensão disso em "O sofista", no qual podemos chamar de potência do falso.

A desorganização mundial é consequência do falso?

Platão - Sim.

Fale mais.

Platão - Aquilo que é outro sem deixar de ser ele mesmo marca o que é falso. O problema é que a ideia de falso que o jornalismo propaga no mundo é herança de Aristóteles, aluno meu que pensou o falso conforme a lógica modal por meio da tabela "verdade e falso". A lógica modal é lógica binária e, por isso, a verdade exclui o falso e o falso, a verdade.

Mas não é isso?

Platão - Se formos pelo caminho da lógica modal, mas a vida não se reduz a essa lógica, onde verdade e falso separam-se. Para além dessa lógica, para além de a verdade ser igual a ela mesma ou para além de A = A, existe uma lógica em que A! = A, ou seja, eu sou diferente de mim mesmo, mas sem deixar de ser diferente de mim mesmo.

É o caso do vírus.

Platão - Correto, o vírus é ele mesmo, sendo outro.

Estamos diante da questão da falta de identidade, pois, como o vírus não para de ser outro sem deixar de ser o mesmo, ele sempre escapa ao ser, ao que é. É preciso, então, pará-lo.

Platão - A velocidade do objeto errante é diminuída quando a ciência (des)cobre a vacina, a mutação viral fica suspensa por algum tempo, até a próxima mutação, por isso a importância de atualizar a vacina, o que a ciência faz.

Um filósofo pensou o vírus como potência do falso. E chegou ao máximo em "O Sofista".

Platão - O falso foi pensado, primeiro, por mim, Nietzsche pensou depois, Deleuze depois de Nietzsche. Os dois me ampliaram. Digo com isso que o falso, para muito além de Aristóteles, atravessou séculos e séculos, mas permanece incompreendido por professores de História, de Sociologia e até de Filosofia.

Incompreendido?

Platão - Sou mal lido no Brasil, me fixaram como filósofo das Ideias.

Quando volta à Grécia?

Platão - Para ser compreendido, vou ficar.

E a saideira?

Platão - Um brinde a inquietantes livros!

 *Professor-mestre de Filosofia

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