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No batuque blues do baixo hemisfério

Paulo Tó e Salloma Salomão se unem em 'Terno Azul', que vai da canção romântica à batida do funk carioca | Foto: Divulgação

Dois nomes do cenário independente paulistano se unem em uma colaboração inédita que dá o tom deste início de 2024, dançando. Paulo Tó e Salloma Salomão desenvolveram o disco "Terno Azul" a partir do auge da pandemia, via WhatsApp, e agora amadurecem sua parceria ao compartilhar com o público esse convite para bailar e mergulhar na MPB: a Música de Pista Brasileira.

O título, além de evocar a imagem clássica de uma vestimenta de gafieira com o conjunto de calça, colete e paletó, representa uma projeção sobre o que seria a ideia do "bem vestir" ocidental. Os artistas exploram a riqueza dessa metáfora ao abraçar e se apropriar da linguagem dos beats, oferecendo uma visão única sobre o funk e o disco do final dos anos 1970 sem perder o olhar atual. "Terno Azul" é uma jornada musical que vai desde a canção romântica brasileira até os vibrantes ritmos do funk carioca.

"Conheci o Salloma em um debate. Ele fazia uma fala contundente, performática. Vejo o Salloma como essa figura provocativa, que transborda arte e política em tudo, na música, no teatro, numa aula ou numa fala pública. Minha aproximação surgiu primeiro pela admiração. Começamos a conversar mais, a compor algumas coisas à distância e daí surgiu a ideia do álbum. Pra mim, a viagem estética que entrei nesse álbum foi a investigação da linguagem dos beats. Isso com certeza vai ficar pros meus próximos trabalhos", avalia Paulo Tó.

A sintonia foi o ponto de partida para uma convivência musical que se mostraria prolífica e logo resultaria no álbum. "Conheci Paulo Tó apresentado por Mariana Mayor. Logo agarramos numa conversa sobre história das músicas brasileiras, suas contradições, riquezas e dilemas. Pensei nele primeiro como um compositor cujo estilo se encontra fora do seu próprio tempo e achei isso atraente. Ele me permitiu ver a continuidade de uma vertente estético política bacana, que eu curto, no presente", reflete Salloma. Depois de ouvir os álbuns de Tó, a proximidade se tornou inevitável, seja por frequentarem os círculos artísticos da capital paulista, seja nas primeiras colaborações: a gravação em estúdio e de um clipe para a faixa de Tó com Jé Oliveira. Quando a pandemia bateu na porta de todos, a amizade havia se feito e a arte de ambos deu frutos compartilhados.

"Terno Azul" representa a alegria possível em meio ao caos, uma esperança que surge de forma inesperada. "Continue a Dançar", um dos singles revelados, explicita esse sentimento, incentivando a ativação da fantasia e da loucura diante das adversidades. Assim, o álbum caminha pelas memórias e desejos, envolto no pulsante "batuque blues do baixo hemisfério".

O processo criativo ocorreu com trocas constantes de letras, poesias, melodias e arranjos, em uma construção verdadeiramente colaborativa.

 

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