Por: Affonso Nunes

Uma voz que se atira ao risco

Darwin del Fabro: 'Nas minhas leituras das músicas escolhidas para o álbum, me peguei descobrindo gêneros, gerações e até palavras que hoje colidem com mais força com o meu novo ser' | Foto: Divulgação

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Regravar canções eternizadas na voz de Elis Regina pode ser um desafio intransponível para muitos artistas. Seja pela voz privilegiada ou por sua capacidade interpretativa, Elis se colocou numa prateleira altíssima, por vezes inatingível. Ainda assim Darwin Del Fabro - cantor, ator, produtor e roteirista - topou o desafio em "Darwin Del Fabro Revisitando Elis Regina", seu álbum de estreia, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (26).

O Correio da Manhã teve acesso ao álbum e comprovou a sensibilidade do trabalho que teve produção e direção musical a cargo da pianista e arranjadora Delia Fisher, conferindo ao álbum momentos de delicadeza e devoção. Artista não binário e gaúcho como Elis, Darwin se entrega as canções e cria um universo só seu em cada registro, talvez tentando nos desvencilhar das óbvias referências que cada canção gravada por Elis nos traga. Mas também por reverência, pois não é preciso recorrer a simulacros ou imitações para celebrar quem nos influencia.

"Elis me ensinou a ser dono de mim. A ser livre. Me encantava aquela mulher que ia contra os padrões da época, era baixinha, de cabelo curto, se parecia um pouco com um menino, sendo uma menina. Era delicada, mas também bruta. Tudo ao mesmo tempo", comenta Darwin.

A escolha de revisitar canções clássicas na voz de Elis está intimamente ligada ao desejo de Darwin de se reencontrar, oito anos depois de mudar-se para Nova Iorque. "Voltei para redescobrir o meu amor por um Darwin que eu havia deixado lá atrás, e abraçá-lo. Sabia que queria falar das minhas experiências e descobertas como não binário nessa volta ao Rio. Nada mais propício do que levantar minhas questões através dessas canções, repaginando o sentido de cada uma segundo as minhas perspectivas de lugar e momento. Volto à minha língua materna cantando sucessos da melhor cantora que passou por essa esfera", explica.

A direção musical e a produção musical de "Darwin Del Fabro - Revisitando Elis Regina" são de Delia Fischer, pianista, cantora e arranjadora, premiada pela direção musical de montagens como a que trouxe Elis de volta aos holofotes.

Delia arregimentou um time de músicos requisitados por grandes nomes da MPB, e sobre a sintonia entre os dois, Darwin comenta: "Delia é uma referência na música, artista na sua essência. Fora o talento, que todos vão apreciar no álbum, é de uma generosidade e escuta ímpar. Nunca me senti tão completo com um material, com a experiência e energia deixadas naquele estúdio. Foi mágico".

Na voz de Darwin Del Fabro, canções como "Atrás da Porta", "O bêbado e a equilibrista", "Casa no Campo", "Alô, alô, Marciano" e "Tatuagem" ganham novos contornos. No lugar da explosão de Elis Regina, o intérprete busca sublinhar o texto, as histórias contadas nas canções: "Nas minhas leituras das músicas escolhidas para o álbum, me peguei descobrindo gêneros, gerações e até palavras que hoje colidem com mais força com o meu novo ser. Sussurro na esperança de que o tempo pare e escute 'que o novo sempre vem', como diz a letra de 'Velha roupa colorida'. Quero passar a minha mensagem forte com delicadeza. Estou cantando perto de você, no seu ouvido", afirma.

O talento de Darwin Del Fabro para as artes despontou muito cedo, ao vencer um concurso de canto aos 3 anos de idade. Depois vieram os estudos de teatro, canto, literatura portuguesa, ballet contemporâneo.

Referência na cena do teatro musical no Brasil (como ator, criador, produtor e diretor), a biografia artística de Darwin inclui projetos para o cinema, TV, além de três EPS já lançado, dois deles dedicados ao cancioneiro de Tom Jobim: "Revisiting Jobim", partes 1 e 2, relendo obras imortais de Tom como "Wave", "Off-Key" (Desafinado) e "Water to drink" (Agua de beber), entre outras.

Em 2016 fez sucesso nacional na TV brasileira como Collete D'Or em "Ligacoes Perigosas", série estrelada por Patricia Pillar e Selton Mello, na TV Globo. Antes de mudar-se para Nova York, participou da novela "Novo Mundo" (2017), também na Globo, como Castrato.

Nos Estados Unidos recebeu otimas criticas por sua atuacao em "Real", no Tank Theatre. Na mesma cidade, estrelou "The Feather Doesn't Fall Far From The Tree", como Adam, no Signature Theatre, e como o Puck de "Sonho de uma noite de verao". Como musico estreou no clube 54 Below com o show "Darwin Del Fabro em NY", com ingressos esgotados, cantando cancoes de Tom Jobim e Frank Sinatra.

Darwin é um dos protagonistas do filme slasher LGBTQIA , "They/Them", do canal de streaming Peacock.

 

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