Com os pés fincados na ancestralidade

João Bosco vai do ceticismo ao Brasil utópico em novo disco aos 50 anos de carreira

Por Thales de Menezes (Folhapress)

Sobre a faixa 'E Aí?', João Bosco conta: 'É uma letra do Aldir não muito comum no nosso trabalho. Quis musicar para esse Aldir como eu penso nele hoje'

Aos 50 anos de carreira, o cantor e compositor João Bosco lança o álbum "Boca Cheia de Frutas", trabalho de inéditas que traz homenagens a Tom Jobim e Aldir Blanc e apresenta uma releitura de "O Cio da Terra", de Milton Nascimento e Chico Buarque. Segundo o artista, é um disco que começa "cético" e termina "utópico".

À primeira audição, é evidente a forte presença das questões dos povos originários. Bosco fala que a ancestralidade está presente em toda a sua discografia. "Pode acompanhar nessas cinco décadas, tem sempre um pé na nossa ancestralidade. Eu fiz com o Aldir Blanc um samba-enredo em homenagem ao João do Pulo, no álbum 'Cabeça de Nego', em 1986, com os versos 'João como um João qualquer/ um João de sangue afrotupi'. São versos que se referem a essa ancestralidade histórica e civilizatória brasileira. Diz respeito aos africanos que chegaram em navios negreiros e aos povos originários da terra."

O título do álbum, e de uma das canções, é a tradução de um canto yanomami, "waruku këëi moramaki". Ele reconhece que o tema indígena está mais explícito nesse disco, mas confessa não saber a razão. "Não sei te dizer. Talvez esses momentos recentes em que povos originários estão sofrendo uma perseguição em seu habitat. Ataques em um passado recente, principalmente no governo anterior, e agora esse governo atual está tentando consertar o estrago", afirma.

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