Por: Affonso Nunes

Marcelo Jeneci: 'Dá para tocar tudo na sanfona'

Jeneci faz do álbum uma viagem no tempo em que tocava em pequenas boates e night clubs | Foto: Hugo Sá/Divulgação

O mestre Milton Nascimento já nos ensinou que todo artista tem de ir aonde o povo está. E foi com esse espírito que o cantor compositor Marcelo Janeci, sanfoneiro por vocação, lança o álbum "Night Clube Forró Latino (Volume I)", em que abre mão de sua autoralidade para relembrar um território sonoro afetivo que remete ao seu início de carreira.

"Eu me criei entre sanfonas e equipamentos eletrônicos, meu pai, seu Manoel Jeneci, de Sairé, era o maior eletrificador de sanfona do Brasil! Do Nordeste para o Brasil. Foi então que eu recebi de um amigo dele meu primeiro fole. Que presente, Dominguinhos... Daí em diante virei músico, sanfoneiro", conta o músico na faixa "Jeneci por Jeneci" em que reafirma sua profissão de fé como artista.

"Na minha estrada, eu tocava e ouvia o que o povo pedia nas rádios. Roberto Carlos, Julio Iglesias, os bregas românticos, as companhias do pagode, do pop às duplas sertanejas. E eu sempre com a minha sanfona. Dá pra tocar tudo na sanfona! E assim toco a vida; nas estradas, com meus amigos, e já não destaco o dia da noite. Comigo, nas boates e nos night clubes latinos por aí, de Pabllo Vittar a Luiz Gonzaga, de Caetano Veloso à maravilhosa Mendonça é tudo forró", afirma o artista.

Fruto de uma pesquisa apurada feita em conjunto com Marcel Klemm, Juba Carvalho, Luiz Araujo e Helder Lopes, o repertório do album é radiofônico e nasce da rádio para as rádios, cinema e telenovelas.

A canção "Amor de Que", sucesso de Pabllo Vittar, ganha na voz de Jeneci e João Gomes um elegante ambiente entre o xote e a bachata paraguaia. Deslocamento este que inaugura e instiga a audição do disco.

"Um Sonhador", da dupla sertaneja Leandro e Leonardo, fortalece a dança num ambiente forrozeiro. De Marilia Mendonça, a faixa "Sei de Cor", com Gaby Amarantos e Jeneci, reafirma o clima de festa latina com os vocais da rainha do brega paraense e uma instrumentação nordestina-cubana.

O clássico reggae de Edson Gomes, "Árvore", celebra a longeva união entre Chico Cesar e Marcelo Jeneci, onde a zabumba de Mestre Bastos, os timbales e quiro de Juba Carvalho, e o tradicional violão três cubano de Ed Woski, desfazem fronteiras entre o xote de Caruaru, o reggae maranhense e a cúmbia colombiana.

De Jorge Aragão, a bela "Eu e Você Sempre" ganha força novelística e radiofônica com a comovente interpretação de Jeneci e sua sanfona em ambiente arabesco.

Outra pérola de nossa canção popular, "A Lua e Eu", grande momento da soul music brasileira, de Cassiano, ganha tom de alegria, se despedindo da tristeza e apontando a seta da vida pra frente.

"Night Clube Forró Latino (Volume I)", que já sugere um novo tomo, evoca a rua, a noite, a festa, o como lidar com as desilusões amorosas, abrindo um rasgo de paixão pela vida como ela é.