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Sofrência em modo hard

Sara e Nina construíram juntas um histórico de atuação artística/musical engajado e em diálogo com questões de gênero e sexualidade | Foto: Betina Polaroid/Divulgação

Imagine canções de cortar os pulsos como "Meu mundo caiu", "Risque", e "Fracassamos", que inauguraram a sofrência na música brasileira nos anos 1940, só que rearranjadas e versadas para o pop, a disco music e o rock. Pois foi isso que as drag-queens cantoras Sara e Nina fizeram ao gravarem o LP "Minha Mulheres Tristes - Uma Ode Furiosa ao Samba-canção", lançado também nas plataformas digitais e com um show que estreou em dezembro.

O trabalho agora será novamente apresentado ao vivo, em dois espaços: no Dolores Club, nesta sexta-feira (7) e na Arena Chacrinha, em Pedra de Guaratiba no dia seguinte.

Com "Minhas Mulheres Tristes", a dupla relê e ressignifica clássicos que foram grandes sucessos nacionais na voz das grandes divas da música entre as décadas de 1940 e 1970, como Dalva de Oliveira, Maysa, Dolores Duran, Linda e Dircinha Batista, enter outras. No disco, Gabriel Sanches e Alessandro Brandão, os atores-cantores por trás das duas drag-queens, reverenciam esse primoroso repertório totalmente rearranjado pelo diretor e produtor musical Pedro Barbosa, e gravado em LP, formato usado por aquelas grandes vozes.

Novas referências

Músicas como "Fracassamos", eterna em Dalva de Oliveira, chegam a 2024 com ecos do soul de "Back to Black" de Amy Winehouse misturado ao "Lago dos Cisnes", e "Vingança", dramática obra-prima de Lupicínio Rodrigues, é apresentada num clima à la The Strokes. "Segredo", traz uma mistura do arranjo original com pitadas de "I Never Can Say Good Bye" e "Can't Take My Eyes Off You", hits de Gloria Gaynor. "Risque", por sua vez, ganhou guitarras roqueiras e pitadas de "Stop In The Name Of Love", célebre sucesso de Diana Ross nos tempos das Supremes. Já "A Grande Verdade", foi repaginada pelo produtor com influências de Baby Consuelo e Os Novos Baianos na cabeça.

No show, "Minhas Mulheres Tristes", Sara e Nina apresentam o sofisticado repertório do álbum além de incorporar suas vivências pessoais e artísticas na roupagem musical e dramática do repertório. O cenário e os figurinos trazem uma estética avermelhada pela paixão das letras das canções, com a reinvenção do glamour da época.

No palco Sara e Nina são acompanhadas por um trio formado pelos músicos Arthur Martau (bateria e direção musical), Antonio Fischer-Band (teclado) e Paulo Emmery (baixo),

As apresentações da dupla também contam com a abertura especial de Maria Navalha, entidade da Umbanda que carrega a energia dos povos de rua, de Exu, abrindo caminhos, honrando o passado e criando a possibilidade de presente próspero.

Vozes de coragem

As 12 canções do LP são sucessos compostos ou cantados por mulheres que , à época, tiveram a coragem de dar voz às traições sofridas, lutas empreendidas, vontades e desejos. Num tempo em que o machismo encontrava menos resistência. "A força do feminino está em cada palavra dessas letras, a potência que elas tinham e continuam a ter. E a sociedade patriarcal tem medo dessa força tão densa e imensa. Por isso é importante exaltar essas mulheres que tiveram coragem pra falar tudo o que elas falavam. Trazer essa nova roupagem para essas letras e músicas tão conhecidas cria novas fricções na sociedade", comenta Alessandro Brandão, a Nina.

SERVIÇO

SARA E NINA - MINHAS MULHERES TRISTES

Dolores Club (Rua do Lavradio, 10) | 7/6, às 21h | R$ 60 e R$ 40 (antecipado)