Por: Aquiles Rique Reis*

CRÍTICA DISCO - O CANTO E A ASA: Cantar é a natureza de Luísa Lacerda

Luisa Lacerda | Foto: Márcio Monteiro/Divulgação

Hoje vamos de O Canto e a Asa (independente e nas plataformas digitais), o segundo álbum solo da cantora e violonista Luísa Lacerda. Considero Luísa um baluarte dentre as cantoras de grande talento, sobre as quais costumo dizer que são mulheres que, graças aos deuses, (r)existem. Luísa canta e toca violão em todas as faixas. Eis algumas.

"Do Alto da Macambira" (Carlos Chaves e André Lacerda). Arranjo: Luísa Lacerda e Carlos Chaves; violão: Carlos Chaves; baixo: Elísio Freitas. Com as cordas trazendo a força nordestina, a resiliência de Luísa aflora. Com leve vibrato na voz, ela é toda brasilidade. O ritmo dá um respiro e Luísa canta ad libtum. Amparado pelo baixo, o violão ponteia. Logo, novamente ad libtum, o suingue retoma a pisada e o fim se aconchega.

"Uirapuru, o Canto e a Asa" (Ian Faquini e Rogério Santos). Arranjo: Luísa Lacerda e Maria Clara Valle; violoncelo: Maria Clara Valle. Com o cello, a intro cria uma atmosfera que remete à seiva vital da natureza. O canto de Luísa flui visceral, como o uirapuru. A melodia é suave. O cello usa o arco e, com o violão, acompanha a voz que clama pela preservação.

"Enigma" (Ilessi e Bernardo Diniz). Arranjo: Luísa Lacerda, Elísio Freitas e Ilessi; voz: Ilessi; guitarra e baixo: Elísio Freitas. O violão abre com um duo vocal de Luíza e Ilessi. Luísa se vale de seus agudos afinados para ir às notas em busca do amor. Ilessi canta com ela e, juntas, em terças e ad libtum, finalizam.

"Xangô" (Miguel Rabello e Paulo César Pinheiro). Arranjo: Luísa Lacerda, Miguel Rabello, Diego Zangado e Elísio Freitas; voz: Miguel Rabello; batera e percussão: Diego Zangado. Os atabaques batem para o canto em duo ao orixá, que vem pela voz de Luísa e Miguel, enquanto os versos do poeta prestam loas à religião de matriz africana.

"Carapuça" (Hugo Kauã e Edu Kneip). Arranjo: Luísa Lacerda, Hugo Kauã e Edu Guimarães; sanfona: Edu Guimarães. Violão e voz desnudam o louvor à mãe criadora. A sanfona se junta. Os três se mostram inteiros. Arritmo, a melodia segue em busca de comover... realiza!

"Dentro de Ti" (Tuca Zamagna e Thiago Thiago de Mello). Arranjo: Luísa Lacerda, Thiago Thiago de Mello, Diogo Rebel e Elísio Freitas; piano: Diogo Rebel; efeitos, baixo e viola caipira: Elísio Freitas. Com sua viola, como se em meio ao arvoredo, Luísa canta aos passarinhos. O piano adere... que bonito!

"Música Parada" (Ítalo Soeiro e Renato Frazão). Arranjo: Luísa Lacerda e Elísio Freitas; voz: Renato Frazão; baixo, guitarra e efeitos: Elísio Freitas. Luísa se entrega à delicadeza da canção. Frazão se ajunta a ela e, em terças, cantam: "Música pra mim/ É pra te dar meu coração/ Música parada/ Madrugada, canção/ E fim".

E é assim, natural e franca, que Luísa Lacerda nos traz sua visão de cidadã do mundo.

*Vocalista do MPB4 e escritor