Por: Affonso Nunes

Para recordar Elis e Tom

Daniel Jobim e Kell Smith relemvram as canções do histórico álbum gravado por Tom Jobim e Elis Regina em Los Angeles, em 1974 | Foto: Divulgação

Álbum seminal da música popular brasileira, "Elis & Tom" (1974) é mais do que uma reunião de canções. O encontro entre o maior melodista e a maior cantora brasileiros vivos à época é um manancial de histórias e um legado para as gerações e gerações de artistas que fazem da canção sua arte e ofício. Daniel Jobim, neto do nosso maestro soberano, e a cantora Kell Smith apresentam turnê em celebração aos 50 anos do álbum icônico no show "Tributo a Elis & Tom" neste sábado (8) no Vivo Rio.

Quando Elis Regina e Tom Jobim decidiram se reunir em Los Angeles para gravar o álbum nem mesmo eles imaginavam o marco histórico deste trabalho, um divisor de águas na história da música brasileira.

Seguindo os passos do avô na carreira artística, Daniel é cantor, pianista e compositor, além de se dedicar a perpetuar a obra histórica criada por Tom. "Logo depois que nasci, o álbum 'Elis & Tom' foi lançado e durante toda a minha vida presenciei de perto o quanto este trabalho transformou a música brasileira, conquistando novos fãs a cada geração, se tornando eterno. Essa também é a minha história, faz parte da minha vida e é um privilégio poder continuar cantando e tocando os corações das pessoas com as músicas do meu avô", explica Daniel.

A escolha de Kell Smith para acompanhá-lo nesta turnê-homenagem não foi aleatória, como conta o músico. "Conheci a Kell em 2018 e me encantei com sua voz, sua potência vocal, afinação e interpretações lindas que ouvi das músicas de Elis cantadas por ela", diz Daniel.

"Assim que eu escutei o disco 'Falso Brilhante' fui atravessada pela arte e vida de Elis Regina. E a partir daí, já completamente apaixonada, comecei a mergulhar no universo da Elis e através dela fui iniciando a minha mais linda viagem pela música brasileira", diz a cantora, que tatuou uma homenagem a Elis pra não me esquecer onde tudo começou. "E esse foi só o começo. Ela é mais do que minha maior influência, ela é meu primeiro amor", destaca a cantora e compositora paulistana.

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Elis e Tom nos bastidores da gravação de álbum que, por pouco, não deixou de existir | Foto: Reprodução

Documento histórico

Há um ano os bastidores desta reunião de talentos vieram à tona com o documentário "Elis e Tom, Só Tinha de Ser Com Você", de Roberto de Oliveira, Jom Tom Azulay. Depoimentos de pessoas envolvidas direta ou indiretamente no projeto são editados com trechos musicais densos e delicados do encontro.

A ideia arrojada de produzir o disco que, a princípio, não tinha a simpatia do músico e nem da cantora, partiu de André Midani (1932-2019). "'Elis e Tom' é um disco de Elis ou de Tom? Em princípio seria um álbum de Elis e sua banda, tocando composições de Jobim e contando com a sua participação. Mas, por outro lado, se tornaria também um projeto a seu modo capitaneado pelo compositor, que teve 14 de suas canções interpretadas pela mais importante cantora do país", lembra o executivo em depoimento no documentário.

É notório que os 18 dias em que o pianista César Camargo Mariano, então casado com Elis, trabalhou nos arranjos, em diálogo com Jobim, foram tensos e penosos. A cantora chegou a arrumar as malas para voltar ao Brasil. Por fim, a gravação engrenou.

O filme revela como foi se dando a progressiva aproximação - em interação cada vez mais sedutora e afetiva - entre o arredio compositor e a desconfiada intérprete, algo que beleza do disco não nos deixava perceber.

Mas o talento não estava apenas no trabalho da dupla em estúdio. A banda arregimentada para o disco era uma reunião de músicos extraordinários e entrosados: Hélio Delmiro (guitarra), Oscar Castro Neves (violão), Luizão Maia (baixo) e Paulo Braga (bateria), além do próprio César Camargo Mariano (piano acústico, elétrico e arranjos).

SERVIÇO

TRIBUTO A ELIS E TOM

Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo)

9/6, às 21h

Ingressos entre R$ 70 (meia) e R$ 280