Por: Affonso Nunes

Alceu ou Alceu, eis a questão?

Alceu no Arraiá do ano passado; o Mombojó lançou 'Carne de Caju', com repertório 100% do pernambucano | Foto: Acervo Fundição Progresso e Laura Proto/Divulgação

Antes que se pense que o cantor e compositor pernambucano de São bento do Una se materializou em dois convém explicar. Admiradores da obra de Alceu Valença tem nesta sexta-feira (14) uma dúvida cruel. Ou assistem o artista comandando o bailão forrozeiro no Arraiá da Fundição ou escolhem uma ida à acolhedora ladeira das Artes, no Cosme Velho, onde os também pernambucanos do Mombojó apresentam interessantes releituras do cancioneiro valenciano gravadas no excelente álbum "Carne de Caju".

Abrindos a temporada de festejos juninos na cidade, Alceu Valença apresenta o show "Meu Querido São João", com abertura de DJ Xeleléu e encerramento do bloco Amigos da Onça. Com mais de 20 anos de tradição, o baile junino na Fundição tem decoração temática, barraquinhas com quitutes, jogos e brincadeiras com a participação do público. No palco, Alceu mostra o melhor de seu vasto repertório em xotes, forrós, baiões, toadas e emboladas - gêneros surgidos no agreste e no sertão do Brasil profundo, assimilados diretamente da fonte pelo cantor, nas festas, feiras e alto-falantes de sua São Bento do Una natal. Sob esta influência, revisitada em sua faceta sonora mais universal, Alceu mostra sucessos de sua lavra, como "Coração Bobo", "Cabelo no Pente", "Tropicana", "Táxi Lunar", Belle de Jour", "Anunciação", "Girassol" e "Pelas Ruas Que Andei", sempre presentes nas festas juninas mais antenadas de nosso tempo.

Tão antenadas que influenciam as novas gerações. Exemplo vivo desse magnífico legado é o grupo recifense Mombojó, que incorpora em suas composições elementos de maracatu, frevo, afoxé, coco, ciranda e outros ritmos afro-brasileiros, combinados com batidas eletrônicas, samples e sintetizadores.

Essa fusão inovadora funcionou mais do que bem no álbum "Carne de Caju", que ressignifica o cancioneito de Alceu com arranjos surpreendentes. O trabalho é o sétimo disco de estúdio da banda e o primeiro não autoral em mais de 20 anos de carreira. "Sentimos que essas composições se adaptaram bem ao nosso jeito de tocar e principalmente porque adoramos esse repertório. Visitar o trabalho de Alceu é mergulhar nas raízes profundas de nossa herança musical", comenta o vocalista Felipe S.

E a química funcionou: o Mombojó acabou conquistando na noite de quarta-feira o Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Grupo.

Ou seja, no sábado para se esbaldar na Fundição com o bailão forrozado de Alceu e viajar em novas sonoridades através de seus maiores sucessos com a levada do Mombojó.

SERVIÇO

ARRAIÁ DA FUNDIÇÃO COM ALCEU VALENÇA

Fundição Progresso (Rua dos Arcos, 24) | 14/6, a partir das 20h (abertura dos portões) | Ingressos: R$ 240 e R$ 120*

MOMBOJÓ - CARNE DE CAJU

Galpão Ladeira das Artes (Rua Conselheiro Lampreia, 225 - Cosme Velho) | 14/6, às 20h30

Ingressos: R$ 80 e R$ 50* | *Levando 1 kg de alimento não-perecível para doação