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A cor que habita a missanga de Ciça Brandi

Ciça Brandi: 'As cores estão em tudo e nos comovem' | Foto: Divulgação

O escritor moçambicano Mia Couto notou que "a missanga, todos a veem. (Mas) ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai ligando as missangas". E qual seria o fio que liga missangas tão diversas quanto um abacaxi, o brilho do Sol, uma tela de Van Gogh, um quindim, e uma bola de tênis? Na sensível percepção da cantautora Ciça Brandi é a cor amarela que conecta todos os elementos que inspiraram a composição de "Amarelo".

O single é a primeira "missanga" de "Cores", o colorido colar sonoro que a artista começa a mostrar com a chegada da música nas plataformas digitais nesta sexta-feira (21) e que o Correio ouviu antes.

"'Amarelo' tem girassol, pão de queijo, Brigitte Bardot, Yellow Submarine. Tem alguém que viaja sozinha (e feliz), pois quem ia junto amarelou. Tem crianças conversando sobre coisas amarelas. O amarelo tem uma história vinculada ao medo e à opressão. Mas optei, na minha música, por trazer o lado mais radiante e saboroso da cor", explica Ciça, que contou com Marcos Suzano na gravação desse xote solar, com pitadas de reggae, produzido por Guilherme Gê.

A letra incorpora ainda referências musicais, gastronômicas e literárias, entre outras. "As cores estão em tudo e nos comovem", atesta a artista. A criação de "Amarelo" e das músicas de Ciça Brandi é inspirada por emoções e ideias, às vezes contraditórias, despertadas pelas cores, e pela materialidade delas: qual o som e a pulsação de cada cor? As letras reúnem elementos, expressões e situações que remetem às cores, por vezes criando narrativas em torno delas. E as melodias imprimem às letras um ritmo e uma temperatura para cada cor.

Foi a elaboração desse álbum, inclusive, que a inspirou a escrever sua tese de doutorado, chamada "Feixes de cores: ensaios e notas", sobre como as cores nos afetam, inclusive na música e na literatura, num desdobramento do trabalho musical. A cada música, Ciça conjuga diversão com estímulos sensoriais e culturais. O sabor e o saber. "O amarelo, por exemplo, tem uma história vinculada ao medo e à opressão. Mas optei, na minha música, por trazer o lado mais radiante e saboroso da cor", revela Brandi.

Gestado por mais de 20 anos, e finalmente previsto para ser lançado em agosto, "Cores", o álbum, vai propor, de modo sinestésico, uma abordagem musical para cada uma delas, com ritmos e pulsações próprias.