A maquininha que fabrica sucessos
O que é MTG, sigla que acompanha hits entre os mais tocados do Brasil
No último mês, as listas de músicas mais tocadas do Brasil tiveram uma sigla em destaque. O termo "MTG", uma abreviação de "montagem", acompanha o título de "Quem Não Quer Sou Eu", música de Seu Jorge, para designar que se trata de uma outra canção -mas que foi feita a partir da faixa lançada em 2011.
Assinado pelo DJ Topo, a MTG de Seu Jorge, um funk, chegou ao posto de mais ouvida do país no Spotify. E ela não é a única na lista, que também tem "MTG Quero Ver se Você Tem Atitude" - com o samba "Cabide", de Mart'nália -, "MTG Quero te Encontrar" - com o arrocha "Romance", de Silvanno Salles - e "MTG Forró e Desmantelo" - com o piseiro homônimo de Manim Vaqueiro -, entre outras.
Em comum, todas essas músicas têm batidas eletrônicas minimalistas e são construídas com trechos das canções originais. Mas apesar desse sucesso de massa no streaming ser recente, as montagens são uma tradição no funk que vem desde os anos 1980, no Rio de Janeiro, e ganhou tração em Belo Horizonte, na última década.
"Antigamente, fazíamos medleys ou pot-pourri", diz Carlos Machado, o DJ Nazz. Além de comandar picapes, ele se notabilizou por trazer discos e equipamentos de som do exterior -material que moldou a sonoridade do funk no Rio.
Esses medleys eram feitos de forma artesanal, ele diz, usando dois gravadores e cortando e emendando fitas - primeiro, as cassete, e depois as de rolo.
"Você cortava um pedaço da música e ou dobrava, se quisesse estender, ou colava um trecho de outra música. Com dois gravadores, você podia botar uma base instrumental em um deles e ir gravando pedaços de outras músicas no outro."
O processo era penoso, e não podia ser feito ao vivo. Mudou quando Machado viu um mixer "bonito, cheio de botão" em uma loja na Oitava Avenida, em Nova York.
"Perguntei ao vendedor para que servia, e ele disse que 'sampleia'. Nunca tinha visto aquilo. Tinha quatro bancos de memória e era muito caro."
O mixer é usado por DJs para mesclar sons de diferentes fontes - computadores, toca-discos, microfones. O modelo trazido por Machado, da marca Numark, era caro demais, mas não demorou até que ele achasse outro por menos da metade do preço, da Gemini.
"O Gemini é o mixer das montagens, porque custava muito menos. A gente trazia devagar, uns dois por viagem, mas todo mundo comprou."
A chegada desse equipamento mudou os bailes. "O DJ pôde transformar aquilo que se fazia artesanalmente numa performance alucinante nos bailes - as montagens", diz Machado. "Descobri a tecnologia e trouxe ao Brasil, democratizei. Depois, vieram os protagonistas das montagens."
Já entre as décadas de 1990 e 2000, outro equipamento abriu possibilidades para os DJs - as MPCs, ou midi center production. Com 32, em vez de quatro bancos de memória, o cardápio de samples e batidas se multiplicou.
Há dezenas de montagens famosas dessa época, algumas destacando músicas gringas - caso de "Montagem do Sax", que reproduz o sax de "Your Latest Trick", do Dire Straits -, outras com trechos de canções nacionais - como "Montagem do Parapapa", com "Rap das Armas", de Cidinho e Doca.
Isso sem contar as montagens que utilizam diálogos de desenhos animados ou programas de TV. Há montagens do Pinóquio, dos Power Rangers e a da Chapeuzinho Vermelho e de animais - como a do boi -, entre outras.